Mesmo usando um cordão azul com o símbolo do quebra-cabeça, utilizado para identificação de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), um adolescente, de 15 anos, teria sido vítima de truculência e ameaças de uma sargento da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Segundo testemunhas, a praça gritou com o jovem e o intimidou durante uma cerimônia de formatura de um curso de formação na Academia da PMDF, na terça-feira (28/5).
O adolescente, diagnosticado com nível de suporte 2, participava do evento com a família. O jovem usava protetores de ouvido para abafar o barulho da cerimônia. Som alto costuma desestabilizar pessoas com TEA, levando a crises. A arquibancada estava lotada. Grande parte do público, inclusive o garoto, se acomodou perto do trecho de passagem do desfile.
De acordo com testemunhas, o trecho não estaria bem sinalizado. Por isso, militares começaram a solicitar a retirada das pessoas para o desfile. Nesse momento, a sargento teria abordado o rapaz e o público em geral de forma alterada, mandando, de forma ríspida, todos se afastarem. A militar teria escalado o tom com o adolescente, supostamente por achar que ele estaria menosprezando o evento ao usar fones.
Testemunhas disseram que ela teria feito a seguinte ameaça: “Ou vocês vão se afastar ou vou ter que usar da força, vou ter que empurrar vocês. Se vocês não se afastarem, vai ser na força. Vocês querem que seja na força, não é?”. E na sequência recriminou o rapaz com o comentário: “Você com esse fone aí, abaixa essa música, senão você não vai sair desse lugar”.
“Ele está com o colar”
Diante da situação, testemunhas ficaram indignadas e teriam tentado alertar a sargento que ela estaria lidando com um jovem com TEA e que, portanto, a abordagem não poderia ser feita daquela forma. “Ele está com o colar! Com o colar do autismo”, teriam dito. Outro policial presente teria percebido a situação e a suposta falha na abordagem e tentou retirar a sargento do local.
Para quem viu a cena, o suposto episódio é mais um exemplo da importância dos cursos de capacitação e reciclagem da PMDF para o tratamento e abordagem de pessoas com deficiência. Testemunhas apresentaram denúncia ao Movimento Orgulho Autista Brasil (Moab). A instituição repreendeu o episódio e solicitou reunião com a comandante-geral da PMDF, coronel Ana Paula Habka.
“O Moab não aceita esse tipo de tratamento aos autistas e às suas famílias na sociedade. Queremos que o autista esteja onde ele quiser, mas a sociedade precisa conhecer e acolher”, afirmou Edilson Barbosa, advogado e diretor-presidente do Moab. O Metrópoles não conseguiu falar com a família do adolescente.
Outro lado
O Metrópoles entrou em contato com a PMDF. Por nota, a corporação assumiu o compromisso de investigar o episódio. “A PMDF não aceita desvios de conduta, especialmente em abordagens a pessoas com deficiência ou em situação de vulnerabilidade”, destacou. A instituição ressaltou que a abordagem de pessoas com deficiência é matéria de formação da tropa.
Leia a nota completa:
“Chegou ao conhecimento da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), através do responsável pela área de ensino, uma situação ocorrida em um evento. Nesse evento, uma policial militar passava orientações de caráter geral, não direcionadas a uma pessoa específica, tendo em vista a quantidade de pessoas que estavam invadindo o espaço. A intenção era evitar tumultos e possíveis acidentes, preservando a integridade física dos participantes. Por isso, foram realizadas orientações para todas as pessoas presentes no local.
A PMDF não aceita desvios de conduta, especialmente em abordagens a pessoas com deficiência ou em situação de vulnerabilidade. O tratamento dispensado pela polícia militar a esses grupos é humanizado, sem qualquer tipo de discriminação. Esse tema é inclusive matéria de formação e atualização dos policiais militares durante os cursos de formação ao longo da carreira. As disciplinas ensinadas passam por constantes aprimoramentos, para que o policial preste um serviço de excelência à comunidade.
Reiteramos que não é aceitável que qualquer policial militar atue de maneira inadequada. Por isso, uma apuração será conduzida com todo o rigor necessário. A PMDF está comprometida em ser uma força policial que respeita e protege todos os cidadãos, propagando os valores de igualdade, justiça e respeito às diferenças“.
Fonte: Metrópoles
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