Aliados veem ‘pior semana’ do governo e cobram Lula a arbitrar pressões e ‘guerra’ contra Haddad

Haddad dá entrevista em 3 de abril de 2024. — Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

De todo o bate cabeça, o fogo amigo e as disputas rotineiras dentro do governo Lula, há um consenso: esta é, se não a pior, uma das piores semanas para o presidente desde o começo deste terceiro mandato. E ainda não é sexta-feira.

No centro da crise, está a cadeira do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. De um lado e de outro, há pressão dentro do PT pela cabeça do ministro e dúvidas do mercado sobre o poder de realização e credibilidade da agenda de Haddad.

Acima de tudo isso, está o presidente Lula — que, como deixou claro quando convidou Haddad em 2022, perguntado sobre o perfil da Fazenda, disse que o ministério teria autonomia mas “obviamente, quero ter inserção nas decisões políticas e econômicas deste país”.

Lula disse mais naquele pós-eleição: que seu ministro da Fazenda teria a cara do sucesso do seu primeiro mandato e que, apesar da autonomia, quem “ganhou as eleições fui eu”.

Aí está a chave para entender o que está acontecendo: Lula 3 não é Lula 1. O próprio líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e um dos mais próximos aliados de Lula, cravou: “você teve um presidente Lula e, agora, você tem outro”.

O Lula 3, acreditam os mais próximos, dificilmente trocaria Haddad por um nome pró-mercado, atendendo a pressões — como desejam setores financeiros e empresariais. Muito pelo contrário: a tendência, avaliam aliados, seria dobrar a aposta e colocar alguém mais ligado à esquerda, ao PT, alguém com um perfil mais de “companheiro”.

O próprio Haddad, vale lembrar, não era um jogador afinado com o mercado. Tampouco foi bem recebido por investidores quando anunciado. Conquistou a confiança desses atores e do Congresso — e emplacou sua agenda em 2023. Foi um apoio conquistado, longe de qualquer adesão automática.

Mas Haddad não é e jamais será visto como “um cara deles”. Ele simboliza, primeiro, um projeto político e eleitoral do PT. Por isso, também, é um erro comparar Haddad a Joaquim Levy, indicado por Dilma para a Fazenda no segundo mandato para tentar amenizar a crise que assolava o início daquela gestão.

Demitir ou dispensar Haddad tem custo político diferente de demitir ou dispensar um nome como Joaquim Levy.

Haddad, apesar de depender do martelo batido de Lula, é, hoje, um dos candidatos à sucessão do presidente — e tem capital político.

Por isso, não é tão simples fazer qualquer conta envolvendo o ministro da Fazenda.

Além do consenso em torno da pior semana do governo, há outro que ganhou corpo nesse mesmo ambiente: Roberto Campos Neto, na visão de Lula e do PT, faz política no Banco Central e junto a adversários do governo, como Tarcisio de Freitas. Enquanto o PT bate cabeça e se dedica a queimar os seus, a oposição está unida e torcendo no camarote — muitas vezes com plateia de empresários e mercado financeiro — pela formação de uma tempestade perfeita no governo Lula.

Haddad, no entanto, não precisa ser unanimidade. Tampouco precisa ser avalizado por todo o governo para sobreviver e definir seu futuro político. É o presidente Lula quem tem o poder de jogar água no fogo amigo, desmentir especulações, contrariar previsões e bancar e empoderar o seu ministro. Afinal, como bem disse em 2022, o eleito foi ele. A caneta é dele.

G1 (Blog da Andréia Sadi)