A dor era tanta que a influencer Aline Maria Ferreira (foto em destaque), 33 anos, não conseguia mais ficar em pé no dia em que foi levada ao hospital, em 27 de junho. Naquela mesma data, o sofrimento só aumentava, e a influencer chegou a desmaiar. Quatro dias antes, ela havia sido submetida a um procedimento estético nos glúteos pela falsa biomédica Grazielly da Silva Barbosa, contratada para aplicar polimetilmetacrilato (PMMA). Aline teve infecção generalizada e morreu em 2 de julho devido à aplicação.
O relato é do marido Pablo Batista, 37 anos, à Polícia Civil do Estado de Goiás (PCGO). O Metrópoles teve acesso ao depoimento em que Pablo conta os detalhes da semana em que Aline recebeu a aplicação de uma substância, acreditando ser PMMA, até o dia da morte da esposa. Os dois estavam juntos há 17 anos.
Veja fotos de Aline:
De acordo com o relato, Aline e uma amiga tinham agendado com a biomédica para receber a aplicação de PMMA na clínica Ame-Se, em Goiânia (GO), em 23 de junho. No entanto, Grazielly teria dito que só tinha a substância para uma delas e a amiga teria que passar pelo procedimento depois. O marido contou que as seringas não estavam na geladeira, e a falsa biomédica tirou os insumos de dentro da bolsa pessoal. “O procedimento foi rápido, durando cerca de 15 minutos”, disse em depoimento.
Grazielly teria orientado que Aline ficasse cinco dias sem deitar ou sentar, recomendou alguns medicamentos e colocou dois band-aids em Aline, segundo o marido contou à polícia. O casal voltou à Brasília nesse mesmo dia.
Desmaio
Conforme o relato, a preocupação teve início em 26 de junho. “Aline já tinha tido febre e começou a sentir dor na barriga, então Grazielly receitou nimesulida e outro remédio”, detalhou. “Aline acordou [no dia seguinte] com ainda mais dor na barriga, tanto que não conseguia ficar em pé. Ela ligou novamente para Grazielly que disse que as dores não tinham nada a ver com o procedimento que foi realizado e nesse mesmo dia sofreu um desmaio em casa”, completou.
Com o esmorecimento, Pablo decidiu levar a esposa para um hospital particular no Distrito Federal e informou Grazielly, mas a biomédica teria tentado convencer Pablo de que não era necessário o socorro. Ela ainda pediu para que o homem passasse a localização da unidade hospitalar, “que ela sairia de Goiânia para encontrá-los”.
Veja clínica de falsa biomédica:
“Por volta das 19h30 da noite [já no hospital], ela pediu para olhar os glúteos de Aline e verificou que não havia secreção dos locais das injeções. Grazielly chegou com duas seringas contendo um remédio para evitar trombose, aplicou no braço e entregou a segunda injeção para que Pablo aplicasse quando estivessem em casa”. Sem injetar o insumo, Pablo entregou essa seringa à polícia civil para ser examinada após a morte da esposa.
No hospital, Grazielly teria dito que não usou PMMA, mas um bioestimulador em Aline. Ela também pegou os exames e enviou por whatsapp a um médico que apontou a situação como grave e que a influencer não poderia sair do hospital. Aline, no entanto, queria ir para casa, foi quando Grazielly disse que aplicaria um antibiótico moça.
“Grazielly perguntou [a Pablo] se não havia a farmácia de algum amigo para comprar antibiótico sem a receita”, destacou em depoimento. Ao negar, a falsa médica então disse que resolveria e saiu para comprar o remédio. “Quando Grazielly voltou ao hospital, a mãe e a irmã de Aline não deixaram que aplicasse mais nada em Aline”.
Internação e mudança de hospital
Segundo o depoimento, para internar Aline no hospital particular seria necessário deixar um caução de R$ 140 mil para os custos hospitalares. Nesse momento, Pablo teve de assinar um documento para autorizar a saída de Aline a levar em seu carro para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
No hospital público, Grazielly tentou convencer Pablo a internar a influencer em Goiânia usando o convênio da falsa biomédica. O homem se recusou. “[Na manhã de 28 de junho], o médico do Hran informou que precisava colocar Aline em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e que ela estava em situação gravíssima”.
Por volta das 3h20 de 29 de junho, a família conseguiu um leito em outro hospital particular, por meio da vaga do Sistema Único de Saúde (SUS). A influencer teve parada cardíaca e apresentava pioras. “Os rins haviam parado, pulmão e coração comprometidos, pés e mãos começaram a ficar pretos. O médico disse que seria necessário amputar um braço e duas perna”.
Os médicos informaram que esperavam Aline estabilizar para levá-la à sala de cirurgia para retirar o produto. “Mas isso não aconteceu, ela morreu em 2 de julho”, contou o marido. Pablo ainda contou que Grazielly parou de falar com ele um dia antes da morte.
Pastor
Relatos também dão conta de que a influencer precisou ficar o tempo todo de bruços no hospital, com as nádegas para cima, e que nenhum medicamento administrado surtia efeito, possivelmente devido ao tipo do produto injetado no organismo dela.
Ainda segundo a família de Aline, Grazielly, mesmo sem autorização, pediu ao próprio pai para visitar a paciente no hospital.
“Em 30 de junho, dentro do box da UTI, apareceu um homem de camisa amarela dizendo que faria uma oração para Aline”, descreveu. A família descobriu depois que o homem era pai da falsa biomédica.
Prisão
A Justiça de Goiás manteve a prisão de Grazielly. A falsa biomédica é acusada de aplicar PMMA nos glúteos da influenciadora digital brasiliense Aline. A jovem morreu dias após o procedimento.
Grazielly foi presa em flagrante na quarta-feira (3/7). A suspeita não tinha curso superior, portanto, também não era registrada junto ao conselho regional da categoria.
A falsa biomédica foi levada para a delegacia após receber voz de prisão em flagrante por crimes contra as relações de consumo.
Fabricantes apontam produto falso
Os parentes informaram que ela teria recebido PMMA, mas a informação é contestada pelo fabricante do produto que alega uso de substância falsa.
“O modus operandi dos clandestinos para atrair vítimas consiste em anunciar procedimentos com PMMA, porém com um valor muito aquém de qualquer serviço minimamente seguro, o que por si só é capaz de levantar a suspeita de uso de produtos adulterados, falsificados ou totalmente incompatíveis com o uso médico, como é o caso do silicone industrial”, informou a defesa.
Segundo a defesa da fabricante MTC Medical, o PMMA tem a venda exclusiva a médicos, com alvarás sanitários para o uso.
Metrópoles
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