Em meio a tantos procedimentos estéticos, têm ganhado muitos adeptos as harmonizações íntimas. Seja da vulva, seja do pênis, milhares de reais são investidos na aparência das genitálias. Contudo, um detalhe pode ser observado: enquanto homens aumentam o tamanho e o volume do pênis para marcar na sunga, mulheres querem deixar suas vulvas mais discretas, apertadas, pequenas e “invisíveis” nas roupas.
Isso acontece porque, ao mesmo tempo em que elas são ensinadas desde cedo que suas genitálias precisam ficar escondidas e ter um padrão estético específico, os homens são produtos do falocentrismo, que vê o pênis como símbolo de poder e virilidade masculina.
“Nós vivemos em uma sociedade falocêntrica. Ou seja, para a maioria, a identidade do que é ser homem gira em torno do pênis. As características físicas desse órgão não são apenas funcionais, mas também definidoras do valor que o indivíduo do sexo masculino tem frente aos outros”, elucida o terapeuta sexual André Almeida.
Com isso, cada vez mais homens buscam a harmonização peniana, uma vez que ter um pênis grande marcando na sunga mesmo sem ereção é algo que aumenta a autoestima deles. “Os homens estão investindo de 4 a 15 mil para ter o pênis dos sonhos”, afirma a sexóloga Camila Gentile.
O público feminino, por sua vez, vai no caminho contrário. Ainda que haja atualmente um movimento feminista de maior aceitação da vulva e combate aos padrões estéticos impostos a ela, milhares de mulheres buscam genitálias com características que beiram o infantil (clara, pequena e “fechada”, por exemplo).
Para a sexóloga Tâmara Dias, uma das grandes propulsoras da “estética ideal” de vulvas é a indústria pornográfica tradicional, que mostra apenas atrizes cheias de procedimentos íntimos como um padrão da expectativa masculina, deixando as mulheres com vergonha de suas vulvas e se sentindo inadequadas.
“A maioria dos procedimentos da região íntima são motivados por padrões mostrados nesses filmes. Essa insatisfação vai refletir diretamente na autoestima, na maneira como ela se vê e como acha que o outro a vê. Isso atrapalha o sexo, porque impede que ela esteja focada no prazer quando estiver com alguém”, diz Tâmara.
Pazes com a vulva
E fica o questionamento: como adquirir uma autoestima masculina no que diz respeito à boa relação com a própria pepeca? Afinal, que mulher não gostaria de vestir uma calça legging sem pensar se ela está marcando demais ou formando a famosa “pata de camelo” (que quando não é vista como algo feio, é encarada como um convite a assédios)?
Para isso, a terapeuta dá algumas dicas:
Questione: “O primeiro passo é questionar os padrões que vem trazendo, se eles ainda são válidos ou fazem sentido para a pessoa que você quer ser. Se perguntar se esses padrões têm aproximado ou afastado você dos resultados que tem buscado para sua vida.”
Se acolha: “Depois, é o momento de se aceitar por inteiro, se olhar com amor, se perdoar. Uma sugestão é ficar em frente a um espelho e se olhar dentro dos olhos, reconhecendo a mulher que você é, quem você se tornou com todas as vivências que teve até aqui e se acolher. Se sentir vontade, tire a roupa, olhe para o corpo que tem uma história, o corpo que te proporcionou experiências, que tem potencial para sentir prazer.”
Apresente-se à vulva: “Uma sugestão é pegar um espelhinho e olhar de perto para ela. Olhe e observe seu formato, sua cor, os lábios externos e internos, o tamanho do seu clitóris, mas sem julgamentos. Pegue nela com delicadeza, sentindo sua textura, observando quais sensações você sente quando a toca, se você tem mais sensibilidade do lado esquerdo ou direito. Crie intimidade.”
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