Personal “fora do padrão” incentiva mulheres a aceitarem seus corpos

Bianca Martins, de 28 anos, é uma personal trainer com uma missão especial. A paulista se dedica a ajudar mulheres “fora do padrão da sociedade” a aceitarem seus corpos por meio da atividade física. Em um ambiente frequentemente marcado por julgamentos, a profissional busca promover a autoestima e o bem-estar de suas clientes.

 Bianca conta que sofre com a obesidade desde os 4 anos. Por isso, sempre foi obrigada pelos médicos a praticar atividade física. Por volta dos 6 anos, começou a frequentar uma academia.

“Era um ambiente chato para mim, então minha mãe resolveu me levar para fazer atividades ao ar livre. Quando eu tinha uns 11 anos, me apaixonei pelo handebol e fiquei quase 10 anos como atleta. Porém, foi bem difícil pelo fato da minha técnica me deixar de fora de alguns campeonatos por eu estar acima do peso”, recorda.

Como Bianca sempre lutou com a autoestima, em busca de emagrecer e ter o corpo “padrão”, não tinha dúvidas da profissão que gostaria de seguir. “Eu não me via em outra profissão, somente a educação física. Tanto que as minhas três opções no vestibular eram educação física, educação física e educação física”, comenta.

Foi aí que ela percebeu que muitas mulheres também se frustram por não conseguir se encaixar em um padrão aceito pela sociedade. Bianca, então, decidiu focar em mulheres que enfrentam esses desafios, e hoje, é acompanhada por mais de 26 mil pessoas no Instagram.

Desafios e oportunidades

Apesar do sucesso, Bianca conta ao portal que enfrentou alguns desafios na carreira. De acordo com a personal trainer, enquadrar-se no padrão dos profissionais da área não foi fácil. Isso porque grande parte deles eram magros e tinham o “shape considerado ok para a profissão”.

“Ainda estou no processo de superação e me coloco no lugar das mulheres que também estão nessa posição. Eu posso, sim, cuidar da minha saúde, bem-estar e qualidade de vida sem estar no padrão estético da sociedade”, defende.

Para isso, a paulista buscou se especializar para poder ter um conhecimento e cativar os clientes pelas suas habilidades. “Eu gosto de estar sempre bem vista, na questão interna mesmo, para não dar tempo da pessoa olhar o meu externo”, elucida Bianca.

Postura profissional

Ter esse pensamento pode influenciar a motivação e a confiança de muitas pessoas. Segundo o psicólogo Rodrigo Bravim, quando um profissional apresenta qualidade e resultados no seu trabalho, os clientes se sentem mais confortáveis para demonstrar suas dificuldades, tendo menor receio de serem julgados.

“O cliente pode ter que lidar com o julgamento, assim como o profissional, ao escolher alguém ‘fora do padrão’. Mas isso pode ser encarado de forma positiva, reduzindo a pressão pessoal para alcançar um tipo de corpo específico e facilitando a aceitação, sem estereotipar o corpo ‘perfeito’’, explica o expert.

A psicóloga e nutricionista Cibele Santos complementa: “É absolutamente possível ser ‘fora do padrão’ e motivar um cliente positivamente à prática de atividade física, saúde e bem-estar, pois, do ponto de vista psicológico, entendemos que seres humanos se conectam com histórias e desafios reais”.

Treinos personalizados

Elaborar um treino personalizado para atender às necessidades e objetivos específicos do indivíduo é o propósito de Bianca. A personal trainer gosta de saber da rotina da pessoa e suas limitações diárias para adaptar os exercícios à sua realidade.

“Tudo depende do tempo que a aluna tem, além da estrutura e limitações. Elas vêm até mim por saber que eu sinto a mesma dor. Então, essa é a minha abordagem, falando: ‘Eu estou aqui para te ajudar a enxergar a gostosa que tem dentro de você, do jeito que você é, sem ligar para as críticas da sociedade’”.

Em relação à preocupação com a demonstração de exercícios físicos, o médico ortopedista Renan Bosio, pós-graduado em medicina do esporte e nutrologia, afirma que algumas atividades podem ser mais arriscadas que outras. Isso inclui os aeróbicos, que podem apresentar uma carga intensa devido ao próprio peso.

“Por isso, deve-se observar certos cuidados, como o uso de tênis adequados e a correta execução do movimento, para evitar lesões articulares futuras. No entanto, é importante lembrar que, se o profissional é um personal trainer, ele é um educador físico graduado e se espera que tenha conhecimento sobre essas precauções”, diz.

Toda ajuda faz a diferença

Depois do boom na web, Bianca recebeu um pedido de ajuda de uma moça de 51 anos que pesa 162 quilos. Segundo a personal trainer, a mulher é professora e trabalha em esquema de home office, entretanto, não conseguia levantar e fazer suas atividades diárias.

Bianca relata que, embora a aluna esteja fazendo exercícios mais básicos, já demonstra mais autonomia, o faz uma grande diferença. “Elas me veem de igual para igual e é isso que mais chama a atenção. Eu não vou olhar torto, não vou julgar, não vou criticar. Estou ali realmente para ajudar, como se fosse eu”, finaliza.

Diversidade e inclusão na área fitness

Apesar das críticas e preconceitos, a atitude de Bianca mostra que há espaço para pessoas “fora do padrão da sociedade”, seja onde for. Estudos revelam que a diversidade em posições de liderança influencia a participação em diversas atividades, incluindo o exercício físico, afirma o personal trainer Eduardo Netto.

“A representatividade e a diversidade em diferentes contextos, incluindo o fitness, podem ter um impacto positivo na inclusão e na satisfação dos participantes. Essa diversidade de corpos entre os profissionais de educação física é essencial para criar um ambiente fitness mais inclusivo, equitativo e eficaz.”

Vitor Vicente, também personal trainer, ressalta que a saúde deve ser vista em primeiro lugar, com os benefícios estéticos surgindo como consequência. “Os exercícios físicos não precisam ser chatos e estressantes, pelo contrário, ache alguma coisa que você se identifique e veja as coisas evoluírem de forma natural”, encerra.

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