Hinos da música nacional, canções como Mulher de Fases, Eduardo e Mônica e Primeiros Erros nasceram em Brasília e mostraram que o gênero, celebrado neste sábado, 13 de julho, tinha berço certo. A cidade não ficou conhecida como Capital do Rock à toa. Foi em terras brasilienses que bandas como Legião Urbana nasceram e acabaram, onde Capital Inicial deu os primeiros passos dos 40 anos de carreira e também onde emergiram grupos que ainda são sucesso, como Raimundos e Plebe Rude.
Vivendo intensamente a juventude, músicos da época adotaram a filosofia do rock que mistura “atitude, linguagem, postura e a forma de ver a vida à sua frente”, como descreve o ex-Legião Urbana Dado Villa-Lobos, em entrevista ao Metrópoles. Para ele, o estilo musical sempre quer passar uma mensagem: “Seja você mesmo, acredite em você e vá em frente”.
Em meio às bandas de grande expressividade, outros grupos de rock nasceram e ainda movimentam a cena local, como o DFC (Distrito Federal Chaos), que fez sua primeira apresentação na Semana Santa de 1993, há mais de 30 anos. Para o vocalista Túlio Dourado, “Brasília sempre foi uma referência para o rock brasileiro, que durante décadas ditou tendência”.
“É inegável que a Legião Urbana foi uma banda que comandou o rock brasileiro por mais de uma década e até hoje é bastante expressiva. Nas décadas seguintes, [a cena] também foi renovada com outras bandas, inclusive nos anos 1990”, avalia o músico.
A qualidade do som produzido na capital atravessou décadas e segue posicionando a capital como referência quando o assunto é música boa. É o que pensa Paulo Veríssimo, vocalista da Distintos Filhos. “Eu vejo muita coisa legal rolando, de verdade. Acho que o rock autoral de Brasília continua bem, apesar de não estar no mainstream“, pontua.
“As pessoas precisam entender que o rock não está na grande mídia e que tem muita, muita coisa rolando em Brasília”.
Paulo Veríssimo
As novas caras do rock de Brasília
A produção em Brasília não para, e bandas novas surgem a todo momento. Entre as mais recentes, um destaque é a Lupa, formada pelo vocalista Múcio Botelho, o baterista Juninho e o baixista Lucas Moya. Diferentemente do que acontece com alguns grupos, eles optaram por não fazer cover e investir em músicas autorais.
“A gente ama todo mundo. A gente cresceu ouvindo essas músicas. Só que é isso, a gente cresceu ouvindo isso e quis fazer as nossas próprias coisas. E aqui [no Brasil] tem gente maravilhosa fazendo coisa incrível em tudo quanto é canto, saca?”, explica Múcio.
Ele destaca que o grupo tem conseguido furar a bolha do rock local e chegar às mais diferentes cidades por meio das redes sociais. “A gente só precisava de ter uma audiência, e agora a gente está chegando nesse pessoal. Estamos desde fevereiro fazendo a turnê deste disco novo — Sucesso a Qualquer Custo — e estamos lotando todas as casas que a gente passa, em todas as cidades”, conta.
A ideia de criar as próprias músicas agrada Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, que sugere às novas bandas fazerem um “som para eles mesmos”, sem focar em fama e aceitação. “Não dá para saber o que o público quer. Não dá para se antecipar. Faça som para você. Para você e seus amigos. Seja sincero. Seja corajoso e criativo. Mas, sobretudo, divirta-se”, sugere o cantor.
Outra banda que segue a dica é a Oxy. O objetivo principal do grupo formado pela vocalista Lara Abreu, os guitarristas Blandu Correia e Lucas Eduardo, o baixista Caio Monteiro e o baterista Lucas Fraga é ser sincero com a própria produção e criar letras que os conectem com o público. “A expressão anda de mãos dadas com o gênero”, defende Lara.
Trazendo um ponto de vista feminino, Lara pontua que o cenário ainda é dominado por homens e chega a ser machista. “É uma luta constante, e ela precisa continuar acontecendo. A gente deve seguir vigilante, porque esse local de expressão é muito nosso [das mulheres] também.”
Ninguém fura a bolha do mainstream
Qual foi a última vez que você ouviu um novo artista de rock? Ele conseguiu formar carreira ou foi um hype que acabou? Essas e outras perguntas são respondidas por Gustavo Sá, um dos criadores do Porão do Rock, que segue à frente do evento até hoje.
De acordo com o produtor de eventos, o grande movimento no mercado musical dificulta que novas bandas conquistem o merecido espaço. “A última grande artista de rock brasileiro que ultrapassou a barreira e foi para o mainstream foi a Pitty. Nós estamos falando de 20 anos atrás. Nos últimos 20 anos, não teve ninguém que apareceu, bombou e virou um grande artista”, avalia.
Apesar do cenário complexo, o cantor Digão acredita no retorno da era de ouro do rock brasileiro. “Eu acho que o gênero está se levantando. As pessoas estão procurando uma coisa mais verdadeira, uma coisa com mais alma, e o rock é isso, o rock é alma pura. Então, o rock está dando uma levantada legal”, opina.
Metrópoles
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