A operação da Polícia Federal (PF) em conjunto com a segurança pública da Bahia, que aconteceu nesta semana, prendeu uma liderança da facção Bonde do Maluco, que é conhecida por se exibir com armas de fogo (foto em destaque).
Felipe Mendes da Silva, o Thulipa, de 28 anos, é “contumaz na prática de homicídios”, nas palavras da PF, já tendo participado de assassinatos e torturas do chamado “tribunal do crime”. Ele já executou uma mulher na frente da mãe cadeirante e participou da tortura pública de um casal em Ilhéus (BA), segundo investigações da Polícia Civil e do Ministério Público da Bahia.
A Bahia vive uma crise na segurança pública nos últimos anos. O estado do Nordeste brasileiro se destacou entre os piores índices de mortes violentas intencionais do país, que inclui assassinatos, latrocínios e mortes em ações policiais. Das 10 cidades mais violentas do Brasil, seis são baianas.
Thulipa foi preso na região de Cajazeiras XI, na capital Salvador, em cumprimento de mandado de prisão. Ele até tentou fugir dos policiais quando percebeu a operação, mas acabou alcançado.
No começo de 2022, a Polícia Militar da Bahia prendeu outro traficante e ficou surpresa com o conteúdo do celular dele: várias fotografias de integrantes do Bonde do Maluco exibindo armas. Entre essas imagens estava uma fotografia de Thulipa em um matagal, armado com um fuzil e fazendo o gesto de “três” com as mãos.
O Bonde do Maluco, ou BDM, é aliado da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), que usa o número “Tudo Três (TD3)” como símbolo. Já o rival Comando Vermelho (CV) é representado pelo “Tudo Dois (TD2).
Barqueiro traficante
Antes de se destacar por participar de assassinatos, Felipe um traficante de drogas que entrou no mundo do crime ainda bem jovem. Com 17 anos, chegou a ser abordado duas vezes com porções de cocaína e um revólver, andando de bicicleta próximo a uma boca de fumo de Ilhéus.
O mesmo aconteceu em agosto de 2015. Já maior de idade, foi preso com drogas e uma arma de fogo.
A gravidade dos crimes de Felipe teve uma escalada em outubro de 2019. Ele foi preso enquanto estava em uma barbearia, acusado de participar do assassinato de Robson Amauri, executado com vários tiros na frente da família.
Além do mundo do crime, Thulipa era conhecido como um barqueiro que fazia travessias para o bairro Teotônio Vilela, cercado pelo rio Cachoeira, em Ilhéus.
Tortura de casal
De acordo com denúncia do MP da Bahia, Thulipa e outras 12 pessoas participaram da tentativa de homicídio de um casal no bairro Teotônio Vilela, em outubro de 2021.
Alex e Maiquele foram amarrados um de costas para o outro, enquanto eram espancados com pauladas e golpes. Eles faziam parte da facção e teriam sido acusados falsamente de ter roubado a esposa de uma liderança do grupo criminoso.
Um dos cinco filhos do casal, de apenas quatro anos de idade, chegou a assistir o começo da tortura. A criança foi levada para um matagal por uma das agressoras da facção criminosa que, segundo inquérito policial, disse: “Como seu filho vai ficar órfão, eu vou criar o menino”.
Maiquele levou golpes tão fortes que teve o braço quebrado. Em certo momento, ela teve uma unha do polegar direito arrancada com um alicate. Quando a polícia chegou, ela estava dentro de uma casa com o cabelo sendo raspado.
Segundo a Polícia Civil, o casal só não foi morto porque uma equipe da PM chegou no local antes e impediu. Enquanto Alex e Maiquele eram torturados, o líder do bando conversava com um superior pelo celular, aguardando uma confirmação para a execução.
Morta na frente da mãe
Josiane Silva, de 32 anos, foi mais uma vítima do bandido Thulipa, segundo investigação da Polícia Civil da Bahia. Ela foi assassinada no dia de seu aniversário, na porta da casa de sua mãe, no bairro Nelson Costa, em Ilhéus, em dezembro de 2021.
Era começo da noite, quando Thulipa se aproximou de forma repentina e deu quatro tiros em Josiane. Depois de balear a mulher, ele ainda esmagou o crânio dela com um objeto. Uma vizinha foi atingida na perna e sobreviveu.
Cadeirante, a mãe de Josiane estava conversando com a filha no momento do crime e testemunhou toda a ação do bandido.
De acordo com o inquérito policial, Josiane fazia parte de um grupo criminoso de outra cidade, mas rival do Bonde do Maluco, que comandava a área do Nelson Costa. Ela estava cumprindo pena em liberdade, com uma tornozeleira eletrônica, e viajou para passar o Natal com a mãe.
A reportagem tenta o contato da defesa de Felipe Mendes. O espaço segue aberto para esclarecimentos.
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