A influencer Natalia Becker, de 30 anos, dona da clínica em que o empresário Henrique da Silva Chagas, de 27, morreu após ser submetido a um peeling de fenol, pagou R$ 397 por um curso on-line sobre o procedimento e concluiu as aulas cinco dias depois da morte do paciente, de acordo com a polícia.
O curso “Peeling de Fenol atenuado – Protocolo N.Face”, ministrado pela farmacêutica Daniele Stuart, foi concluído por Natalia no dia 8 de junho, às 21h49, conforme os registros da plataforma digital onde o curso era hospedado, que constam na investigação da Polícia Civil.
No documento, a plataforma ressalta que existem duas formas pelas quais o sistema identifica a conclusão de uma aula: a primeira é automática, registrada quando o aluno assiste, ao menos, 90% do material gravado; a segunda é manual, quando o aluno seleciona as aulas desejadas e assinala como concluídas.
“Independentemente da forma de conclusão, o sistema registra ambas as ações da mesma maneira, como aula concluída. O sistema não distingue qual das duas formas foi utilizada para marcar a conclusão da aula”, aponta o documento. Ou seja, não é possível saber se a influencer de fato assistiu às aulas ou apenas registrou manualmente a conclusão.
Em entrevista, a farmacêutica que criou o curso disse que a influencer não terminou o curso. “Natalia Becker não terminou o meu curso, ela não realizou o meu curso, tenho fatos e provas que ela concluiu o meu curso no dia 8”, afirmou à TV Record. “Se tivesse seguido realmente o que ensino, o passo-a-passo no meu curso, isso jamais teria acontecido.”
Segundo Tatiane, a influencer terminou o curso no ano passado, e entrou na plataforma apenas para emitir o certificado. Ela disse que, para isso, precisou marcar vídeos das aulas como “assistidos”. Além disso, argumenta, os dados da plataforma são inconsistentes, uma vez que o último registro de conclusão do curso é do dia 8. “Se afirmaram que a Natalia concluiu o curso dia 8/6, não poderiam ter disponibilizado um certificado de conclusão [antes]”, disse.
“Natalia afirma ter assistido todo o conteúdo, além disso, foi disponibilizada uma apostila com o mesmo conteúdo dos vídeos”, concluiu.
Risco de matar
O relatório final da investigação foi enviado nessa terça-feira (21/8) para a Promotoria de Justiça Criminal de Santo Amaro, informou o Ministério Público (MPSP)
A polícia concluiu que Natália assumiu o risco de matar Henrique. “Manipular tal substância [fenol] e [nem] sequer procurar saber dos riscos inerentes ou das possíveis medidas de solução em caso de eventuais intercorrências evidencia o dolo eventual da investigada, uma vez que esta assumiu o risco do resultado [morte], mais uma vez, frise-se, provável e possível”, diz o relatório final da investigação.
O documento policial aponta que Natalia omitiu informações ao paciente antes do procedimento, quando o descreveu como “minimamente invasivo”. Segundo a polícia, ela sabia da possibilidade do peeling de fenol provocar “intercorrências cardíacas” — intercorrências essas de fácil pesquisa em fonte aberta e contidas na apostila do curso que a influencer realizou, conforme os investigadores.
A polícia destacou que Natalia não tem formação técnica para a realização de procedimento com fenol e que ela e sua equipe não possuem qualquer preparo para atender eventuais intercorrências com pacientes, como foi o caso de Henrique.
Peeling de fenol
O empresário Henrique da Silva Chagas morreu devido a uma parada cardiorrespiratória em decorrência de “edema pulmonar agudo” ao inalar fenol durante peeling na clínica da influenciadora Natalia Becker. A causa da morte consta no laudo do Instituto Médico Legal (IML) da Polícia Técnico-Científica.
A perícia encontrou vestígios do produto químico na pele do paciente e conseguiu confirmar o que causou o problema nos pulmões dele: “edema pulmonar agudo desencadeado por ação inalatória local do agente químico fenol”, informa o documento assinado pelo médico que fez o exame necroscópico em Henrique.
“Consta a presença da substância química fenol na análise do fragmento de pele e tecido estudados em dose qualitativa. Consideramos que a inalação do ácido volátil ‘fenol’, usado topicamente na pele da vítima e identificado qualitativamente em exame toxicológico nos fragmentos enviados, provocou loco-regionalmente as alterações descritas macro e microscopicamente descritas em epiglote, laringe, traqueia e pulmões, culminando num edema pulmonar agudo responsável pelo êxito letal”, completa o laudo.
“As alterações ocasionaram danos na função respiratória, com inibição da hematose, que gerou o escurecimento sanguíneo, a congestão polivisceral e as equimoses (…)”, aponta a perícia no documento.
“Deve-se considerar, ainda, que a escarificação apresentada em face poderia ter contribuído para um aumento da absorção do produto, embora o mesmo não tenha sido detectado na amostra de sangue estudada”. A escarificação citada é a sequência de cortes feitos no rosto de Henrique antes da aplicação do produto.
Segundo a delegada Samia Olivier Martins de Oliveira, os peritos estão analisando os laudos e a equipe está empenhada na apuração da verdade dos fatos. Porém, para ela, pela simples leitura do laudo, não há prova de causa ou responsabilidade relacionada a Natália.
Morreu durante procedimento
Henrique Chagas começou a passar mal logo após ser submetido a um peeling de fenol no último dia 3 de junho. O óbito dele foi constatado por uma equipe do Samu cerca de uma hora depois dos primeiros sintomas.
Natália se apresentou na delegacia apenas dois dias após a morte da vítima e prestou depoimento por cerca de 2 horas. “Eu tô muito triste pelo que ocorreu, jamais quis prejudicar ninguém. Sinto muito pela família dele. Acabou com a minha vida isso. Eu jamais tive a intenção de prejudicar ele”, disse a influencer a jornalistas ao sair da unidade policial.
A mulher admitiu não ter solicitado exames prévios de Henrique e disse que aprendeu a aplicar o peeling no curso on-line.
A clínica dela foi fechada e autuada pela Vigilância Sanitária do município. De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde, o estabelecimento “exercia procedimentos em desacordo com a legislação vigente”.
Avaliação por foto
Troca de mensagens entre a equipe de Natalia Becker e Henrique Chagas da Silva, que morreu após ser submetido a um peeling de fenol, no início do mês, mostra que o jovem recebeu indicação para realizar o procedimento após enviar uma única foto e foi orientado a iniciar “tratamento”, feito com produtos vendidos pela influencer, durante o mês anterior à aplicação.
A negociação para o peeling de fenol, que foi incluída no inquérito da Polícia Civil, aconteceu pelo Instagram. Natalia Becker, que não possui formação em medicina, foi indiciada por homicídio doloso.
Os prints (veja acima) mostram que a clínica da influencer, localizada na região do Campo Belo, na zona sul da capital paulista, permitia agendar procedimentos pela rede social. O cliente também tinha opção de agendar uma consulta antes da aplicação.
Ao entrar em contato com o perfil do estabelecimento, Henrique recebeu uma mensagem de boas-vindas, informou a sua cidade e escolheu sobre qual tratamento desejava tratar – entre “melasma”, “peeling de fenol” e “interesse em curso”.
Conversa pelo Instagram
Em seguida, a clínica enviou uma mensagem de apresentação e informava o valor à vista (R$ 4,5 mil) ou parcelado (R$ 5 mil). “Você quer conquistar uma pele mais firme e jovem? Entre em contato e agende uma consulta para saber se é indicado para você”, diz trecho do texto.
A sequência da conversa, no entanto, mostra que essa análise poderia ser feita, na verdade, por meio do próprio chat. “Poderia por favor enviar uma foto de sua pele para uma breve avaliação”, pergunta a clínica. Henrique responde com uma única imagem, do seu rosto de perfil.
“Obrigada pelas fotos! Você tem indicação sim de realizar o peeling de fenol!”, responde o estabelecimento, que se coloca à disposição, em seguida, para tirar dúvidas pelo Instagram.
O jovem prefere agendar uma consulta com Natalia. Ele também avisa que trabalha em um pet shop e pergunta se pode ter contato com calor após o procedimento. “Desde que não jogue o secador em seu rosto”, responde a clínica.
O estabelecimento, então, avisa que Henrique precisaria “iniciar o tratamento” um mês antes. “Como você tem cicatrizes profundas, temos que preparar a pele para o fenol”, diz a mensagem.
A Polícia Civil já sabe que a vítima não realizou qualquer exame médico antes de se submeter ao procedimento. No mês anterior, o jovem teria aplicado espuma de limpeza, hidratante facial, protetor solar e clareador, vendidos pela influencer. Também teria ingerido comprimidos de colágeno.
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