Candidato mais rico na eleição à Prefeitura da capital, o influenciador Pablo Marçal (PRTB) tem vendido aos eleitores paulistanos a imagem de empresário bem-sucedido que fez fortuna à frente de diferentes negócios. Entre os feitos empresariais que propaga em suas redes sociais estão a compra de um banco e de uma seguradora avaliada em R$ 400 milhões.
Em palestras e podcasts (veja abaixo), Marçal diz que o banco está “autorizado” a funcionar e foi aberto porque ele estava descontente com instituições financeiras que operavam suas contas. A seguradora, afirma, já opera com autorização da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Marçal não é sócio de nenhuma dessas empresas. Enquanto a instituição financeira não consta na base de dados do Banco Central (BC), a tal seguradora não tem registro da Susep. O “banco” é apenas uma plataforma que cobra R$ 45 do cliente para abrir uma conta em outro banco — este autorizado pelo BC —, que, por sua vez, não exige um centavo sequer para abertura. O mesmo acontece com a seguradora, que não passa de uma revendedora de seguros de outras empresas e que vende a R$ 497 um curso de “executivo”, que são aulas de como ser corretor.
General Bank
A história contada por Marçal em palestras e entrevistas é que ele decidiu “abrir um banco” após “descobrir como funciona” o sistema bancário e ficar decepcionado. “O dia que eu comecei a ter clareza na minha vida, o que eu quis? Eu quis? Eu quis abrir um banco. Eu tenho um banco, o General Bank”, disse. “Já está autorizado, já. Tem muito negócio, a gente nem fica fazendo propaganda para não parecer camelódromo digital”, completou em um dos vídeos.
Marçal até tem suas digitais em um “General Bank”. Trata-se de uma marca registrada diversas vezes por ele no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) para algo que vai desde um banco a uma loja de cursos on-line. Portanto, em nome dele existe apenas o registro para uso exclusivo da marca, o que não implica em ser sócio de uma empresa ou dono de um produto que existe.
O aplicativo do General Bank disponível para download em plataformas de apps do Google e da Apple tem como responsável a empresa BRM1 Administradora, cujo único sócio é Bruno Pierro, um amigo de Marçal e apoiador de sua campanha. Pierro se apresenta como “co-founder” do General Bank, ao lado de Marçal.
Nos mesmos moldes de Marçal, ele propagandeia ser detentor de segredos para “faturar um milhão com qualquer negócio”. E fez vídeos de apoio ao candidato quando ele teve suas contas nas redes sociais bloqueadas pela Justiça Eleitoral há cerca de uma semana, por suspeita de abuso de poder econômico com suposto financiamento ilegal de edição e divulgação de vídeos. O candidato do PRT nega as irregularidades.
Nas mesmas redes sociais, Pierro diz que veio de baixo. Morou de favor na casa da avó e fez “videozinhos para jogo de celular no Youtube”. Disse ainda que depois de alguns fracassos, mudou de vida depois de “perceber que sair do comum é o essencial”. Em um vídeo em suas redes sociais, Marçal atribui a ele a abertura de 28 bancos.
R$ 45 por conta gratuita
Quando um correntista quer abrir uma conta no General Bank ele se depara, de cara, com dois fatos. O primeiro é que, à diferença dos maiores bancos do país, e desrespeitando regras do Banco Central, ele cobra R$ 45 só pelo primeiro cadastro e abertura de conta bancária.
O segundo é que a conta aberta não é do General Bank, porque ele não é um banco. Trata-se de uma conta corrente no Asaas, que tem autorização do Banco Central e, assim como os grandes bancos brasileiros, não cobra nada para abrir contas para pessoas físicas.
E para onde vão os R$ 45 cobrados pela plataforma do General Bank? Comprovantes de Pix e boletos mostram que a taxa cai nas contas da empresa de Bruno Pierro, a BRM1. No fim, o banco que Marçal diz ser dele é apenas uma plataforma que cobra de seus clientes para abrir uma conta bancária no Asaas, que oferece o mesmo serviço gratuito e sem intermediários.
No contrato oferecido pelo General Bank, há descrição de como a empresa pode cobrar tarifas pelos serviços. O texto é pouco claro e cheio de erros de pontuação: “A contratação da assinatura dos serviços da plataforma General Bank é necessária pois, é através dela que você será incluído no rol de usuários ativos”, diz trecho da mensagem onde a plataforma anuncia “cobranças de tarifas para a realização dos serviços”.
De fato, em uma aba de tarifas no aplicativo do General Bank consta que “saques” do banco virtual custam R$ 6,50. O “plano de assinatura”, que é imposto logo ao entrar no aplicativo e antes de fornecer uma conta bancária do Asaas ao correntista, custa R$ 45 na lista de “taxas”. Há, ainda, um alerta: “Primeiras 30 transações gratuitas, após aplica-se a taxa estipulada”.
Apesar de a conta e todos os serviços serem do Asaas, a única menção à instituição financeira que provê a conta e as transações ao General Bank é em um parágrafo no meio do contrato no qual a empresa diz que “o Asaas é a instituição financeira responsável pelo provimento do Pix, ou seja, pela intermediação de transações Pix realizadas na plataforma”.
Cursos e pacotes
No entorno de Marçal, um outro amigo do candidato, chamado Nézio Monteiro de Oliveira, que atua como coach, é sócio de uma empresa chamada “General Bank”, aberta no fim de 2023, com capital de R$ 200 mil. Também é sócio dela Tiago Rocha Vieira, que dá palestras com Nézio e Marçal.
Além de amigo, Nézio também tem sociedades com Marçal. Aparecem juntos como donos da Resort Digital, empresa de R$ 12 milhões de capital. Dela, também é sócio Marcos Paulo de Oliveira, que é sócio de Marçal em diversas outras empresas, inclusive na de aviação e na fazenda em Itu, no interior paulista. Ele doou R$ 900 mil a Marçal nas eleições 2022, quando o ex-coach tentou ser candidato a presidente, acabou se elegendo deputado federal, mas teve a candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral.
Além de serviços de um banco comum, como transferências, pagamentos de boletos e Pix, o General Bank oferece em sua plataforma um produto com acesso a cursos, palestras e e-books de Marçal.
Seguradora sem registro
Anos atrás, Pablo Marçal começou a anunciar uma seguradora chamada “Loovi” em seu reality show de empreendedores, chamado “La Casa Digital”, como patrocinadora do programa. Por ele, a empresa é apelidada de “Netflix dos Seguros”. Depois, em palestras, começou a mencioná-la como uma empresa que adquiriu. Repetidamente, tem dito que é uma seguradora com registro na Susep.
“Realmente, a Loovi é uma seguradora. Seguradora!”, exclamou em um evento. “Tá na Susep, não é uma associação, não sei o que, é uma seguradora. E essa seguradora é muito simples: É o Netflix dos seguros. Eu estou te garantindo”, continuou. A garantia, no entanto, não tem lastro em papel.
Nos documentos, ela aparece com a razão social CW Technology Ltda. e o nome fantasia de Loovi Technology. A empresa foi aberta em 2019, com capital de R$ 50 mil. Seu CNPJ não tem qualquer registro na Superintendência de Seguros Privados (Susep), autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda responsável pelo controle e fiscalização do mercado de seguros no país.
Essa empresa está em nome de outro influencer, Quezide Cunha, que dá “conselhos bilionários” na internet e também é próximo de Marçal. Na prática, a Loovi é uma intermediária que vende os serviços da LTI Seguros SA, que tem Quezide como presidente.
Marçal tem apenas uma sociedade em conta de participação (SCP) com o nome Loovi. Essa modalidade de empresa costuma ter um sócio ostensivo, que entra com o dinheiro e fica responsável pela sociedade. O outro é apenas um administrador. A questão é que dessa SCP só fazem parte Marçal e sua holding. Não há elo societário com a LTI ou a Loovi.
R$ 497 para ser corretor
Em processos judiciais, clientes mencionam também que contrataram a Loovi e que receberam dela serviços de outras seguradoras. Nessas ações, são os insatisfeitos com os serviços que reclamam à Justiça. Queixam-se de falta de retorno sobre sinistros e outros problemas para usar os serviços da Loovi.
Marçal também aproveita a Loovi para vender cursos. Em um deles, diz recrutar “executivos” da seguradora. Para tanto, basta se inscrever e pagar R$ 497. Quem conseguir vender cinco apólices pela Loovi na primeira semana, ganha o direito de conseguir o dinheiro de volta.
Para atrair interessados, ele faz eventos que chegam a durar três horas. “Se você fizer cinco vendas, não é possível não fazer cinco vendas, a gente te paga de volta o que você investiu. A gente não quer ficar com esse dinheiro”, disse Marçal em um desses eventos, transmitido pela internet. Nesse evento, eles vendiam o curso por R$ 297. Segundo Marçal, a proposta era para diferenciar “quem está dentro e quem não está”.
metropoles
Outras Notícias
João Azevêdo garante que é pré-candidato ao senado para as eleições de 2026
Carroceria de caminhão se solta durante viagem e esmaga a própria cabine
Polícia Federal investiga fraudes no pagamento de seguro-defeso na Paraíba