Londres – O temor de que profissionais de jornalismo possam ser substituídos por avatares gerados por inteligência artificial (IA) se concretizou esta semana na Polônia. A OFF Radio Krakov lançou três apresentadores alimentados por IA após demitir mais de 10 membros da equipe.
O diretor da emissora, Marcin Pulit, explicou que o projeto é um “experimento sem precedentes” destinado a responder a uma pergunta que assombra a imprensa: a IA representa uma oportunidade ou uma ameaça ao futuro do jornalismo?
Para Mateusz Demski, jornalista e crítico de cinema que apresentava um programa na estação pública até agosto e está entre os demitidos, a resposta é clara. Ele protestou veementemente contra a novidade e criou uma petição que rapidamente ultrapassou 15 mil assinaturas, além de ter provocado uma reação do governo.
Krzysztof Gawkowski, ministro de assuntos digitais e vice-primeiro-ministro, escreveu no X (antigo Twitter) dizendo que havia lido o apelo de Demski e que é preciso regulamentar a IA.
“Embora eu seja um fã do desenvolvimento de IA, acredito que certos limites estão sendo ultrapassados cada vez mais.
O uso generalizado da IA deve ser feito para as pessoas, não contra elas!”
Não é a primeira vez que uma emissora de rádio ou TV usa apresentadores gerados por IA.
Isso tem acontecido em várias partes do mundo, por vezes servindo a propósitos sociais.
Alguns exemplos são uma iniciativa para proteger jornalistas sob risco na Venezuela usando avatares para dar notícias contrárias ao governo e outra em que uma apresentadora criada com IA no Peru lê informações no idioma quechúa.
Mas no caso da Polônia, a substituição na sequência de uma leva de demissões elevou as preocupações com empregos e com a qualidade da informação.
E o motivo pode ser financeiro, já que as verbas de mídia do setor público foram cortadas na Polônia e o diretor da OFF Radio disse que a audiência estava “perto de zero”.
A estação na cidade de Cracóvia disse que seus três avatares foram criados para atingir ouvintes mais jovens falando sobre questões culturais, artísticas e sociais, incluindo as preocupações das pessoas LGBTQ+.
Em seu protesto, Mateusz Demski disse:
“É um precedente perigoso que atinge a todos nós, podendo abrir caminho para um mundo em que funcionários com anos de experiência nosetor de mídia por anos e pessoas empregadas em indústrias criativas serão substituídos por máquinas”.
A IA no jornalismo da OFF Radio
Os substitutos dos jornalistas demitidos foram bem “humanizados” e caracterizados como representantes da Geração Z no site da emissora.
“Emilia “Emi” Nowa, de 20 anos – uma estudante de jornalismo; Jakub “Kuba” Zieliński, de 22 anos – estudando Engenharia Acústica na AGH, e Alex, de 23 anos, estudando psicologia.”
De acordo com a biografia de Emi Nowak, ela é especialista em cultura pop, segue apaixonadamente as últimas tendências do mundo do cinema, música e moda e “ama cinema independente”.
Na apresentação, a OFF Radio destaca que o conteúdo que eles apresentam é elaborado por jornalistas verdadeiros que utilizam ferramentas de inteligência artificial.
“Após a geração do texto, ele é conferido e verificado pelos jornalistas e posteriormente convertido em som. Os artigos para o site são preparados de forma semelhante.
Ao selecionar músicas, também utilizamos sugestões de ferramentas de inteligência artificial sobre quais músicas os jovens gostariam de ouvir.”
“Os materiais criados com ferramentas de IA são claramente identificados como tendo sido criados desta forma”, acrescenta o texto.
Junto com a apresentação dos radialistas gerados por IA, a OFF Radio anunciou uma “enorme dose de conhecimento sobre esta tecnologia, vista por muitos cientistas como uma ameaça”.
A rádio disse que colocará no ar uma programação especial em que cientistas, publicitários, advogados e pessoas da indústria criativa falarão sobre vários aspectos do desenvolvimento da inteligência artificial e o seu impacto na ciência, nos meios de comunicação, na cultura e na sociedade
Fonte: Midiatalks
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