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Lideranças Yanomami denunciam falta de autonomia e transparência na gestão da saúde indígena

Lideranças indígenas da etnia Yanomami encaminharam, no início de agosto de 2025, uma carta oficial ao Ministério da Saúde, denunciando graves falhas na gestão da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), sob responsabilidade do ministro Alexandre Padilha.

Principais críticas apontadas na carta

  • Centralização das contratações: o Distrito Sanitário Especial Yanomami e Ye’kwana (DSEI‑YY) em Boa Vista (RR) não tem autonomia para contratar profissionais de saúde; as pré-seleções são realizadas em Brasília por meio da AgSUS, e a coordenação local recebe apenas listas com os candidatos aprovados para entrevistas.

  • Falta de acesso a dados fundamentais: segundo o documento, lideranças regionais não têm acesso às informações coletadas sobre saúde nas aldeias, nem detalhes sobre a construção do Centro de Saúde de Surucucu — cuja obra estaria parada há nove meses. Ainda não foram informados sobre tipo de atendimento, data de inauguração ou nome oficial da unidade.

  • Monopólio no transporte aéreo: a empresa Voare Táxi Aéreo detém exclusividade no transporte de pacientes. Dois idosos Yanomami teriam morrido por desnutrição durante o uso desse serviço em 7 de julho, e o DSEI‑YY teria sido multado pela empresa por atraso no pagamento — mesmo quando os recursos públicos demoraram a chegar.

Reações oficiais

Em resposta oficial, o Ministério da Saúde informou que as contratações seguem “recomendações do Ministério Público do Trabalho (MPT)” e do Tribunal de Contas da União (TCU). A pasta ressaltou que o número de profissionais de saúde no território Yanomami saltou de 690 em 2023 para mais de 1.700, após a declaração de estado de emergência.

O governo prevê entregar o Centro de Saúde de Surucucu em setembro de 2025. A nota também indicou que a contratação da empresa aérea respeita a Lei de Licitações e ocorre com supervisão de órgãos de controle.

Um contexto mais amplo de crise

Em janeiro de 2023, o Ministério da Saúde decretou situação de emergência na Terra Yanomami diante de casos de malária, desnutrição grave e mortes, especialmente entre crianças. Nos primeiros onze meses de 2023, foram registradas 308 mortes na região, mais da metade entre crianças de até 4 anos, com causas atreladas à pneumonia, diarreia, malária e fome.

Ainda em 2023, o garimpo ilegal continuou afetando o território, dificultando a prestação de serviços básicos como vacinação e consultas nas aldeias mais isoladas. Esse contexto agravou o quadro de saúde entre os indígenas.

Apesar de ter havido redução nos índices de mortalidade e aumento no número de atendimentos e profissionais em campo, as lideranças afirmam que essa melhoria não reflete uma transformação real da gestão, que ainda permanece distante da autonomia local e da confiança das comunidades

 

Reportagem: Calvin Santana
Imagens: Ministério da Saúde / Divulgação

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