Acidente de Zé Neto mostra riscos que sertanejos correm nas estradas

Um dos cantores mais famosos do país passou por um susto na noite da última segunda-feira (5/12). Zé Neto, da dupla com Cristiano, trafegava na vida BR 153, no município de Fronteira (MG), quando colidiu com uma carreta na contramão e capotou. O artista não corre risco de vida, mas já faz parte de uma estatística alarmante: de acordo com levantamento feito, foram 56 acidentes com artistas nas estradas brasileiras entre 2012 e 2022. As colisões tiraram a vida de 51 pessoas e feriram outras 176.

A maioria das vítimas são jovens músicos sertanejos que percorriam o Brasil com uma logística embaraçosa para conseguir atender à demanda de shows. Na maioria das vezes, familiares, empresários ou os próprios cantores assumem o volante, em carros de passeio, para atravessar estados, visitar cidades, bater à porta das rádios e divulgar o trabalho. Foi o caso do cantor Pedro Paulo, da dupla com Alex.

No ano passado, ele viajava para Goiânia após um show quando o carro que conduzia foi fechado por um caminhão. O veículo rodopiou na pista e virou no acostamento. Ninguém se feriu, mas a experiência deixou traumas e aprendizados ao sertanejo.

“Esse acidente só confirmou algo que eu já pensava desde o início da carreira, nunca gostei de pegar estrada de carro, seja dirigindo ou seja de carona. Nunca fui um cara que gostou de ir pra show de carro e pra qualquer outro compromisso de carro, devido a muitas fatalidades que a gente já viu no meio do sertanejo, citar um exemplo aqui como o João Paulo do João Paulo e Daniel”, cita Pedro Paulo.

Rotina insana

Após o acidente, o sertanejo passou a priorizar as viagens de ônibus. “A gente vive na noite e dorme muito pouco. Às vezes, a pessoa que está responsável pela gente também acaba descansando muito pouco, então é um risco muito grande. Viagens longas eu não me importo, desde que seja dentro do ônibus com o máximo de segurança possível”, reflete.

Segundo o Coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, o cansaço é, de fato, uma das principais causas de letalidade nas rodovias. “Podemos estimar que 20% dos acidentes ocorrem com motoristas cansados e que respondem por 30% das mortes. Quem cochila ao volante, por exemplo, não reduz a velocidade numa colisão e como existe relação direta entre velocidade e gravidade das lesões, as consequências costumam ser mortais.”

Ele lembra ainda que a fadiga afeta todos os condutores e a maioria dos motoristas e motociclistas já admitiram ter cochilado pelo menos 1 vez ao volante. Nesse contexto, conscientizar os usuários de rodovias sobre os riscos da fadiga e outros aspectos que contribuem para as tragédias nas nossas rodovias é fundamental.

Medo e cansaço nas estradas

“Às vezes, os empresários gostam de fazer dois, três shows num dia só, né? Aí é mais corrido ainda. Tem aquela correria toda pra acabar um e já sair correndo pro outro e acaba sendo mais perigoso”, desabafa o cantor brasiliense Henrique, da dupla com Ruan.

No dia a dia, os trabalhadores que atuam no transporte de músicos aproveitam para dormir durante a montagem do palco e a realização do show. Já no trajeto da viagem ocorre o oposto: enquanto o motorista dirige, banda e técnicos recuperam as horas de sono perdidas na noite anterior — o que nem sempre é possível, justamente pelo medo que viajar nessas condições gera aos artistas.

“Às vezes eu levo aquele ponto de ouvido, que é um fone, na verdade, para diminuir o barulho de ônibus, da viagem ali. Aí às vezes dá até pra cochilar um pouquinho, né? Mas no primeiro balançar do ônibus assim, dá um medinho. É difícil pegar no sono pesado”, declara.

A ONG SOS Estradas orienta os motoristas e demais profissões que dependem de grades deslocamentos a não4 viajar cansado, dormir pelo menos 8 h0ras antes dos deslocamentos, evitar viajar sozinho e dirigir por um período superior a 8h; dar preferência às viagens diurnas; descansar pelo menos 15 minutos a cada 2h de direção; se alimentar corretamente; revezar a direção sempre que possível e não usar álcool, drogas ou medicamentos que afetem os sentidos.

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