Às vésperas do marco de um ano dos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu, em entrevista divulgada neste sábado (6/1), que a invasão por apoiadores extremistas não se tratou de uma tentativa de golpe de Estado, e sim de uma “armadilha da esquerda”.
Em 8 de janeiro de 2023, apoiadores de Bolsonaro que não aceitavam o resultado das eleições do ano anterior, vencidas pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva, invadiram e depredaram as sedes do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto.
Em entrevista à CNN, Bolsonaro disse ter repudiado os ataques desde o primeiro momento, mas que esse “nunca foi o comportamento das pessoas que estão do nosso lado, as pessoas de direita”.
“Tanto é que, apesar da CPMI [Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os ataques do 8/1], que nada apurou, nasce uma certeza de que aquilo foi uma armadilha por parte da esquerda. Mas, infelizmente, não foi para frente a investigação”, declarou o ex-presidente.
O Congresso Nacional realizou uma CPMI sobre os atos de 8 de janeiro, convocada por parlamentares bolsonaristas. O texto final do relatório, aprovado em outubro, pediu o indiciamento de 61 pessoas, entre elas Bolsonaro, cinco ex-ministros e ex-comandantes das Forças Armadas.
Bolsonaro classificou o episódio como “lamentável”, e afirmou que o “pessoal de direita, conservador e bolsonarista nunca foi de fazer isso aí”. O ex-presidente é alvo de inquérito no STF que investiga as invasões. A suspeita é de que ele teria incitado o movimento. Ele, no entanto, nega veementemente.
“Para haver a tentativa [de golpe], tinha que ter uma pessoa à frente. Tudo que foi apurado não levantou nome algum. São suposições. Quem vai dar golpe com velhinhos, com pessoas idosas com bíblia debaixo do braço, com a bandeira na outra mão, com pessoas do povo, com vendedor de algodão doce, com motorista de Uber, com menor de idade, com criança? Quem vai dar um golpe nesse sentido?”, questionou.
No entanto, o ex-chefe do Executivo federal também lamentou o que considera como “punições altíssimas” aos invasores.
“Até porque são culpadas, segundo o relator do Supremo Tribunal Federal (STF), de uma tentativa armada de mudar o Estado democrático de direito. Nenhuma arma foi encontrada”, defendeu.
Questionado sobre um eventual arrependimento por não ter passado a faixa presidencial a Lula na posse, uma semana antes dos atos criminosos e no momento em que muitos de seus apoiadores ainda se aglomeravam diante de quartéis do Exército, Bolsonaro foi incisivo.
“Eu jamais passaria a faixa a esse cidadão Lula, essa pessoa de triste memória para todos nós. Autor, coautor, responsável por atos de corrupção os mais bárbaros possíveis aqui no Brasil, onde ele entregou o poder a grupos de políticos e outros em troca de apoio no parlamento e assistimos, por exemplo, à questão do Mensalão, do Petrolão”, afirmou o ex-presidente na entrevista.
Ato em defesa da democracia
Nesta segunda-feira (8/1), o presidente Lula conduz uma cerimônia no Congresso Nacional, com a presença dos chefes dos Poderes, em alusão ao marco de um ano dos ataques antidemocráticos.
“Eu acredito que tem um responsável direto, que planejou tudo isso e que, covardemente, se escondeu e saiu do Brasil com antecedência, que foi o ex-presidente da República”, disse, sem citar o nome de Bolsonaro.
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