Em 2022, das mais de 156 milhões de pessoas aptas ao voto nas eleições presidenciais e legislativas, cerca de 52% eram mulheres, de acordo com estatísticas divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Porém, apesar de formarem maioria no eleitorado brasileiro, as mulheres ainda são sub-representadas na política: das mais de 9 mil candidatas a cargos públicos no mesmo ano, apenas 311 foram eleitas.
Neste sábado (24/2), são celebrados 92 anos do direito feminino ao voto. Entretanto, a participação feminina na política, seja através das urnas ou atrás das bancadas, ainda revela preconceitos e inadequações a esse público, mesmo quase um século depois do feito. É a conclusão da cientista política Noemi Araujo, mestra em Poder Legislativo.
“Se você parar para pensar, um banheiro feminino só foi instalado no Senado Federal em meados de 2016. Então, o direito ao voto e a ser votada deve vir acompanhado de uma estrutura que permita o exercício pleno desse direito e desse dever. Senão ele vem carregado de dificuldades e limitações que nós enfrentamos e reconhecemos na teoria e na prática até hoje”, explica.
Noemi Araujo afirma que, apesar dos avanços na criação de políticas públicas voltadas para mulheres, a falta de representatividade feminina no Parlamento brasileiro acaba por delimitar a eficiência das leis devido à falta de equivalência com a realidade da população do país. O Brasil está em 135º lugar no ranking mundial de mulheres no parlamento.
“Homens brancos, ricos e velhos não são reflexo da sociedade brasileira. Então, nós precisamos que a sociedade brasileira seja, de fato, representada nos cargos de poder e decisão. Se nós temos [na população] a maioria das mulheres, se nós temos [na população] a maioria negra, nós precisamos que essas pessoas estejam nesses assentos”.
Outra questão levantada pela cientista política é a falta de apoio dos homens às mulheres na política. “Além do voto feminino, nós também precisamos do voto masculino. Nós precisamos que os homens enxerguem as mulheres como potenciais agentes de transformação social, como pessoas capazes de exercer cargos políticos, cargos eletivos, como políticas eficientes e profissionais experientes”, afirma Noemi.
“O patriarcado diz que essas mulheres não são dignas de estarem ali, que elas não pertencem àquele lugar, ou ainda que elas não têm capacidade para exercer aquela atividade, sendo que, muitas das vezes, são mulheres que têm um histórico escolar e educacional com graduações e especializações muito maiores do que os homens, mas são sempre as mulheres a serem questionadas sobre suas habilidades, sobre a suas experiências”.
Poder de influência
Por fim, ela diz que, para além dos votos e candidaturas, as mulheres podem participar da política e exercer cidadania através de participações em ações sociais e por meio de influência, seja como militantes, ativistas, pesquisadores ou voluntárias em projetos sociais.
“As mulheres, principalmente, têm poder de influência muito forte, muito ativo e muito inerente que, muitas das vezes, elas mesmo não percebem em si. Elas acham que são generosas, que sempre fizeram isso, que sempre ‘esteve no sangue’, mas isso é um ato político, é um ato de cidadania, de exercício da solidariedade, de exercício de ações políticas e sociais onde o Estado muitas das vezes não chega”, finaliza a cientista política.
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