Houve invasão do CNJ a pedido de Zambelli, diz advogado de hacker da Vaza Jato

Em entrevista nesta quarta-feira (2), o advogado Ariovaldo Moreira, que representa o hacker Walter Delgatti Neto, preso hoje pela Polícia Federal (PF), afirmou que, segundo seu cliente, a invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi feita a pedido da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).

O hacker foi detido em uma operação que investiga invasões ao sistema do Poder Judiciário, tendo admitido que acessou o sistema do CNJ e do Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP), além de ter inserido um falso mandado de prisão em desfavor de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo Moreira, não há negociação de delação premiada em andamento. Porém, afirmou que o cliente tem predisposição de colaborar com a Justiça para “trazer até as autoridades o que realmente aconteceu, quem são as pessoas envolvidas, qual é a participação dele e dessas outras pessoas”.

“Ele fez isso [invasão], e fez isso a mando de Carla Zambelli. Ele é réu confesso e vai responder pelo crime, tem ciência do que ele fez e quer colaborar com as investigações para que se chegue ao que realmente aconteceu”, pontuou.

Questionado, Moreira não especificou quem seriam as outras pessoas envolvidas, destacando que Walter Delgatti pode dar novos depoimentos às autoridades nos próximos dias.

Ainda segundo o advogado, o hacker teria relatado que esteve no Ministério da Defesa para, “a princípio”, auxiliar na auditoria das urnas eletrônicas. Teria também, ainda segundo relato de Delgatti, elaborado parte do relatório divulgado pela pasta sobre a lisura desses sistemas.

Reunião com Jair Bolsonaro (PL)

Sobre uma reunião de Delgatti com Jair Bolsonaro (PL) em 2022, em que o então presidente o teria questionado se era possível invadir urnas eletrônicas, Moreira afirmou que esse foi um dos assuntos tratados por ambos, mas que “o desfecho não poderia narrar”.

No depoimento desta quarta, o hacker disse que “isso não foi adiante” porque o acesso dado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ao código-fonte “foi apenas na sede do tribunal” e que ele “não poderia ir até lá”.

De acordo com fontes ouvidas, Bolsonaro teria dito a advogados que ficou em silêncio em reunião com hacker e tranquilizou sua defesa afirmando que tem “zero” preocupação com ação.

Em declaração à imprensa nesta quarta, Zambelli alegou que Walter Delgatti ofereceu ao Partido Liberal (PL) um “serviço de participar de uma espécie de auditoria das urnas eletrônicas durante o primeiro e segundo turnos” e, em seguida, foi conhecer Bolsonaro “porque disse que teria muitas informações sobre tecnologia”.

O advogado do hacker ressaltou que ele e o cliente estiveram em uma reunião com o presidente do Partido Liberal (PL), Waldemar da Costa Neto, tendo, inclusive, conversado com uma pessoa que era responsável pela campanha do ex-presidente.

Moreira afirmou que, “a princípio”, a proposta era de que Delgatti assessorasse uma equipe sobre a lisura das urnas, o que destacou que “não é crime”.

“Depois dessa reunião, percebi da própria deputada Carla Zambelli que não seria bem isso, não seria bem uma consultoria técnica do Walter. Entendi que ali, talvez, iriam levar o Walter para falar com o [então] presidente com outros interesses”, ponderou.

Por fim, o advogado explicou que, por esse motivo, havia deixado a defesa do hacker.

“Insisti muito para que ele não participasse daquela reunião, mas, o Walter sentiu, naquele momento, talvez por vaidade, uma pessoa humilde, do interior, que foi tão julgada pela sociedade, ter a possibilidade de estar frente a frente com o presidente da República, mas ele não me ouviu.”

 

 

 

 

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