Cartão de vacina: suspeito de fraude teve movimento financeiro atípico

Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviado à CPI do 8 de janeiro mostra uma movimentação financeira atípica do médico Farley Vinicius Alencar de Alcântara, sobrinho do ex-ajudante de Jair Bolsonaro (PL) Luis Marcos dos Reis.

Em maio, o médico foi alvo de busca e apreensão em uma operação da Polícia Federal que apurava fraude em cartões de vacina de Bolsonaro, do tenente-coronel Mauro Cid, então chefe da Ajudância de Ordens, e de familiares. Na ocasião, apontou-se que Farley teria usado dados de uma enfermeira para forjar a vacinação contra Covid-19 da esposa de Cid, Gabriela Cid, na época em que atuou na Prefeitura de Cabeceiras (GO).

Conforme o relatório do Coaf, obtido pelo Metrópoles, a análise financeira de Farley mostra “movimentação atípica, de maneira habitual, o que poderia indicar utilização da conta pessoal para trânsito de recursos de atividade empresarial e/ou tentativa de ocultação de patrimônio”.

“Considerando que não foram encontradas justificativas nem fundamentos econômicos ou legais para a movimentação financeira analisada, comunicamos pela possibilidade de configurar indícios do crime de lavagem de dinheiro ou com ele relacionar-se”, informou o órgão.

O relatório, que analisou o período de 1º de junho de 2021 a 3 de agosto deste ano, ainda aponta: “Principais créditos oriundos por transações de mesma titularidade em outra instituição financeira, sem conhecimento da real origem dos recursos, de plataforma intermediadora de meios de pagamentos, já relacionada em comunicação de operações suspeitas, e de terceiros correlacionados com a atividade empresarial”.

Farley está na mira da CPI depois que foram identificadas movimentações entre ele, Cid e o sargento do Exército Luis Marcos. Ao prestar depoimento na comissão no último dia 24, Luis foi questionado sobre as movimentações entre ele e o sobrinho.

Na ocasião, a relatora da comissão, Eliziane Gama (PSD-MA), citou dados do relatório que analisou as movimentações financeiras do ex-ajudante de ordens.

“Você recebe dele [Farley], do mesmo grupo da família, uma [transação] de R$ 24 mil, outra de R$ 5 mil; aí você volta uma de R$ 33 mil, uma de R$ 5 mil; aí você recebe dele aqui uma de R$ 2 mil e uma de R$ 6.580; aí você volta depois uma de R$ 2,5 mil. Quer dizer, é muita movimentação financeira”, afirmou.

O militar respondeu apenas que o pai de Farley “é dono de uma empresa, que paga imposto como qualquer outro brasileiro comum”.

A reportagem não conseguiu contato com o médico. O espaço está aberto para manifestação.

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