Hoje em dia com o advento das redes sociais, tudo vira moda, e viraliza com muita facilidade, principalmente se isso for um antídoto para aliviar, e tamponar a angústia de existir, e o termo “autoconhecimento”, é mais um utilizado com muita frequência, e jogado na vala comum, sem se quer sabermos do que se trata “autoconhecer-se”. Eu não poderia deixar de mencionar ainda que fazer psicoterapia também é algo em alta, e até associa-se, “fazer terapia para se autoconhecer”, e lhes confesso, como profissional que se dedica a profundos estudos sobre o psiquismo o humano, não existe nada mais patético do que procurar um psicólogo para se autoconhecer, e vou lhes explicar o porquê.
Na psicanalise, temos um autor que se chama Jacques Lacan, foi psiquiatra parisiense e psicanalista, exímio leitor da obra do Freud, praticou e ensinou a psicanálise por mais de 30 anos no século passado. O mesmo dizia que o eu, é formado pela palavra de um Grande Outro, ou seja, muito do que nós somos, é na verdade muito do que o outro deseja para nós. Nosso nome, sobrenome, gostos culinários, musicais, religiosos, tudo isso alguém nos ensinou a gostar e apreciar, dificilmente nós somos, ou seremos o que nós desejamos, porque nos falta condições, e disposição para sabermos quem realmente somos. E a ideia de autoconhecimento, é na verdade uma furada, porque seria meramente um processo que implica em ratificar o que já sabe, do que um dia alguém te ensinou.
Um trabalho terapêutico que se preze, vai na contramão do autoconhecimento, trilha um itinerário de autodesconhecimento, na intenção de dessaber o que disseram sobre você, para que de fato você se interrogue, “quem eu sou para além do que eu já sou?”
Vale ressaltar que na íntegra, nunca saberemos quem realmente somos, afinal, até retifico o que eu acabei de dizer, não somos, estamos. É por isso que se autoconhecer não é um fato, é na verdade uma constante, um caminho, e uma vida.
Fuja das formulas mágicas, dos antídotos, dos choques de realidade, que na verdade nos jogam mais numa vala existencial do que nos tiram dela. Nunca estaremos prontos para darmos a nós mesmos respostas prontas acerca de quem somos, e seremos.
Não acredite em ofertas de “faça terapia para se conhecer”, “se conheça”, compre esse curso e saiba mais de si”, o processo terapêutico é doloroso, não há nada de confortável em saber mais de nós mesmos.
Encerro citando Caetano Veloso em sua música Cajuína:
Existirmos: A que será que se destina?
Humberto Júnior
Psicólogo e psicanalista lacaniano
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