A Geografia Cultural e a Religião foi o ponto de partida para esse artigo, em especial nesse momento de profundas contradições políticas e econômicas, que empurraram algumas potências e o Estado Sionista de Israel a uma violenta cruzada para a destruição e genocídio do povo palestino, em sua utopia de formação do Estado Palestino.
Na Geografia Cultural nos deparamos com categorias de análise como o espaço do sagrado (CORRÊIA; ROZENDHAL, 2003), bem como, apontamentos sobre fenomenologia e a percepção geográfica de fenômenos das divindades e até mesmo dos territórios culturais de experiência com o sagrado, como temas, em muitos casos, complexos e contraditórios.
Desde que esse genocídio sionista se intensificou na Faixa de Gaza (Palestina), que passei a questionar, se de fato, existe algum tipo de Deus mediando as ações do governo de Israel? Se assim for, como fica a situação da divindade do povo palestino, também monoteísta e de mesma matriz teológica?
Isso sem falar no total apoio do Governo dos Estados Unidos aos sionistas de Israel, bem como o apoio de Governos de alguns países da União Europeia e do Reino Unido, todos de matriz religiosa cristã, tanto católica, quanto evangélica.
A escolha teórica e metodológica é reflexiva e questionadora, partindo do paradigma indiciário, tentando encontrar respostas essenciais sobre a escalada religiosa entre o politeísmo, henoteísmo e monoteísmo.
A questão central desse artigo, em primeiro momento, é saber o que ocorre com as divindades que o proto monoteísmo deixou de seguir? É importante dizer que, nestes mais de 300 mil anos de existência do homo sapiens, o monoteísmo é uma experiência muito recente, captado historicamente, nestes últimos 2.500 anos (SITCHIC, 1976).
Para além da Geografia Cultural que dedica espaço aos estudos do fenômeno religioso ou sagrado, também nos interessa a relação da geografia com a filosofia (SPÓSITO, 2004), pois para compreender o desenvolvimento do pensamento religioso é preciso encontrar suas raízes.
Outro aspecto do estudo e entender algumas teorias naturalistas sobre os deuses como fenômenos da natureza ou seres vivos que eram relevantes e com as suas mortes, através da oralidade, foram transformados em lendas, mitos e passaram a serem cultuados e adorados através de imagens em madeira, pedras mármores e metais, entre outras simbologias.
A teoria mais importante a esse respeito é o “Evemerismo”, desenvolvida por Evêmero (IV aC). Seus exemplos vão desde um ser humano que existiu de fato e que era destacado em sua tribo ou clã e com a sua morte, passou a ser cultuado naquela comunidade para, com o tempo, ganhar espaço e representação do sagrado, chegando até ao panteão dos grandes Deuses de uma cultura, ao exemplo de Urano, Cronos e Zeus na mitologia grega e suas centenas de ilhas, relativamente isoladas.
De acordo com o evemerismo, os deuses antes de serem deuses, foram heróis, conquistadores, reis mortais e que em vida, eram venerados, idolatrados e depois da morte passaram a ser cultuados em diferentes rituais, até sua definitava sacralização.
Parece que Evêmero, em teoria, se aproxima dos ateístas que negam a existência sacra de deuses, enquanto no evemerismo, os deuses são literalmente criações ou invenções humanas, adoradas como deuses e ou deusas.
Entre os vário deuses, alguns se tornam mais importantes, enquanto outros são esquecidos e nesse processo, surgem trindades, dualidades e unidades sagradas, que em muitos casos, só se tornam unidade devido a negação dos demais deuses.
Com base no evenerismo os judeus e até mesmo os cristãos negam os deuses de outras religiões e afirmam que seus deuses são únicos, os outros são apenas imagens e ídolos irreais. Esse é o princípio fundamental do monoteísmo, mesmo sabendo das contradições que aparecem nos próprios escritos que fundamentam estas religiões.
Entre carne, metal, ferrugem, pedra, lodo, madeira e morfo, foram forjadas as imagens dos dos muitos deuses.
Quando foram perdendo o sentido, as imagens foram substituídas pelas ideias e subjetividades dos Deuses, estes se tornaram imaginários e invisíveis.
Esse foi um estágio de fundamentação dos deuses invisíveis, que são sustentados através de narrativas de um mito criador, para que futuras gerações sigam como uma vedade inquestionável.
Daí uma filosofia teológica em que Deus reaparece refletido em luz, imagens fluidas como o ar e a água, nas nuvens, nos trovões, tempestades e nos céus.
O inominável, resolveu a ideia de muitos deuses ou de todos em apenas um.
Nas religiões o mono é a quebra da diversidade e só é um na negação dis demais, também, se não existir materialmente, pois as contradições e discórdias tornaria esse mono insustentável.
Essa construção de Deus nos dá uma sensação de existência de um ser para além da matéria, mas, quando Deus se torna antropofisado, sempre nos deparamos com o paradoxo da imagem semelhança.
Problema do Velho Testamento no judaísmo e no cristianismo, sempre nos deparamos com a ideia de Trindade que não combina totalmente com o mono. Que Deus estranho é esse que, ao mesmo tempo é um, dois, três. Sendo pai, filho e espírito santo. Não faz sentido, mesmo assim, se justifica com argumentos teológicos contraditórios e provisórios que se sustentam há milênios.
Existem alguns enigmas dos deuses ou do divino, desde o Oriente Próximo, ba confluência com o mar Negro, Vermelho e Mediterrâneo, passando pelos sumérios, assirios, babilônios, até chegarmos aos egípcios, gregos e romanos, entre outros. Como é possível explicar que, em territórios tão próximos, surgiram tantas religiões e tantos deuses?
O que diz a Pedra Moabita ou de Estela de Danesha, sobre Javé e outros deuses semitas como: Deus Kemosh e Shassu, adorados e venerados pelos semitas e ou cananeus? Como Javé, que era um Deus do deserto, das tempestades e da guerra, em algum momento se tornou único? E os outros Deuses tiveram que ser mortos, ou foram incorporados a Javé?
Como Javé se fez um único Deus, dentro da teologia, em “Javé é o ser que fez o que foi feito. Um ser de paixão, possessivo e ciumento”.
Que homens inventaram um Deus que exige sacrifícios, obediência absoluta, amor incondicional?
Na teologia do javismo (YAHWH), existe a profecia que, em troca da fidelidade única a Javé, Ele enviaria um Messias (+ ou – 500 aC), para salvar seu povo dos inimigos e das atribuições (Adonai). Já são cerca de 2.500 anos de espera pelo enviado de Javé.
Javé elegeu os semitas como seu povo, ou foram os semitas que escolheram Javé entre tantos outros Deuses?
Sempre que leio o Velho Testamento, base histórica do Torá, Talmude e até da Kabala judaicas, me deparo com essas dúvidas. Também não entendo, qual a base teológica para que cristãos, especialmente algumas denominações evangélicas, usem o Velho Testamento em suas pregações? Não faz muito sentido, pois os judeus além de não terem reconhecido Jesus Cristo como o Messias, ainda lhe consideram um impostor, continuando a longa espera do seu verdadeiro Messias.
Mas os estudos bíblicos apontam que acescolha de Javé se relaciona com Moisés e os 400 anos de cativeiro e escravidão dos hebreus pelos egípcios.
Como Javé, um Deus dos desertos, das tempestades, guerras e conquistas, que era cultuado pelos povos nômades dos desertos, se transformou em Deus único para os hebreus?
Os escritos maometanos não negam as origens e fundamentos dos hebreus e a herança ismaelita em Abraão, mas não existe essa tentativa forçada de querer ser parte da teologia semita, como fazem os evangélicos cristãos consevadores. Essa é uma contradição muito mais do presente, que dos fundamentos do cristianismo apostólico romano.
Para onde foram os outros deuses que eram cultuados pelas varias tribos semitas do Oriente Próximo e até mesmo dos 400 anos de cativeiro no Egito, como: El, Asherah, Baalx e Utu-Shamash. Deuses da fertilidade, abundância, proteção, justiça?
Não é fácil esclarecer, mas parece que, em algum momento se fez uma opção por não pronunciar o nome de Deus, esse pode ser um indício para tirnar os vários e diferentes deus em um. Daí a ideia dis sete nomes de Deus. Adonai, El Shadai, Elohim Shabaot, Adonai Shabaot, Elohá, El, Ehieh, Iah, entre outras dezenas de nomes que existem na tradição mítica judaica.
Na sequência de outros nomes, Asherah era a Deusa cananéia israelita da fertilidade, base de estações dos anos, dos grãos, oliveiras e dos próprios pastos e animais.
Outro enigma que nunca compreendi ao longo do Velho Testamento. Nos 400 anos de escravidão na terra dos faróis, não existe nenhuma passagem bíblica, sobre as gigantescas pirâmides, esfinges e outros monumentos do Egito? É no mínimo estranho, pois como escravos deveriam ter trabalhado nestas construções.
Se estiveram de fato no Egito, será que ocorreram disputas entre as centenas de divindades egípcias e a fé em Javé saiu vitoriosa, pois como o Deus do deserto, das tempestades e das guerras, estava em vantagem territorial, pró semitas e povos que cruzavam os desertos.
Muitos outros nomes de deuses semitas aparecem em estudos religiosos anteriores ao monoteísmo. Nesse conflito divino: Javé X El. X Asherah X Baal X Utu-Shamash. Todos caíram e foram vencidos pelo nome de Javé?
Vale registrar que nenhum destes Deuses citados, se relacionam com os deuses egípcios. Todos eram divindades do Oriente Médio e até certo ponto, complementares em suas missões, com a fé dos pivos que habitavam tida a região da Palestina.
Muitos imaginam que os judeus sempre foram monoteístas, que só resistiram ao cativeiro egípcio, babilônico e romano, entre outros, por causa da sua fé em um único e poderoso Deus.
Mas, o monoteísmo teve basicamente um período inicial, entre 780 e 522 aC. Antes desse período, contados os filhos de Noé, temos pelo menos uns 5 mil anos, em que prevaleceram estruturas politeístas e ainda, muitos séculos de henoteismo (um Deus principal, além de outros deuses que eram cultuados).
Será que o Deus de Noé é o mesmo de Moisés, Abraão, Salomão ou David?
Será que os primeiros reis de Judá, como Davi e Salomão, foram as bases para um Estado Teocrático javístico? Será que os líderes religiosos e o Estado elegeram um Deus, entre tantos outros, mas o povo e as tribos continuaram cultuando seus deuses ancestrais? Em algum momento houve uma imposição dos reis ao Deus Javé? Davi e Salomão são bons exemplos para a definição de um Deus dos desertos, tempestades e guerras, trazido por Moisés do cativeiro do Egito.
Nos relatos bíblicos, única fonte a tratar da história antiga do povo semita, não fica claro isso. Apenas em Moisés, quando ele vai ao monte e o Deus Javé exirge fidelide ao seu povo e cunha os dez mandamentos, inclusive castigando o povo hebreu a perambular 40 anos no deserto, para fazer uma limpeza ideologica de cunho politeísta de gerações, até que os velhos morrecem e levassem consigo para o túmulo, as velhas crenças, para que os jovens seguissem o Deus de Moisés. Que Deus possessivo, vingativo e ciumento é esse?
O Deus de Moisés foi encontrado no deserto, os seguidores de Moisés não foram fiéis a esse Deus, desviaram a fé aos seus Deuses e interesses pessoas, até parece que o Deus de Moisés, não conseguia convenser os hebreus, mas o que era um castigo de 40 anos, diante de 400 anos como escravos do Faraó?
Se foi Javé que escolheu os hebreus como seu povo eleito, por quais motivos os deixou cativos de vários outros povos? Para uma lição de vida?
Ainda temos a ideia dos profetas, dos sábios, como a voz da consciência de Judá. Daí o culto a Javé e as dinâmicas de mudanças proféticas, da ideia de justiça, de igualdade, de compartilhamento de uma fé única, nesmo que outros deuses convivam e eram tão importantes quanto Javé.
Talvez, Javé fosse o Deus da proteção dos Reinos de Israel e Judá em longo período de guerras, mas os deuses e deusas da fertilidade, da paz e da justiça, continuasse nos cultos tribais.
Sempre tive essa dúvida de passagem teológica entre o politeísmo, henoteísmo e monoteísmo.
Encontrei em Max Muller (STRENSKI, 2020), que o henoteísmo era a adoração a um Deus, sem negar a existência e importância de outros deuses. Parece que foi o caso de Asherah, Deusa da fertilidade que era uma espécie de consorte de Javé.
Como Asherah foi apagada ou deletada do panteão semítico, assim como outros deuses?
No livro Deuteronômio (Velho Testamento), Javé veio do Deserto do Sinai, acompanhado de uma presença divina (seria Asherah?).
Textos hebreus monoteístas de 515 aC a 70 dC. falam sobre a derrubada do segundo Templo de Salomão. Será que a coisa do Messias que estava previsto nos textos de Javé, foi absorvida pelos cristãos da época?
Será que os Islâmicos interpretaram a mesma ideia com o advento do profeta Maomé, enviado por Alá? Os relatos históricos dão conta que, em 931aC., com a morte de Salomão, seu Reino foi dividido em norte e sul.
Toda essa região era conhecida como Philistibe e os Hebreus escolheram Javé entre os vários deuses, do panteão do Oriente Próximo e médio.
Venerar, agradecer, pedir favores, cantar louvores a esse Deus unico, escolhido pelos hebreus. Mas, para onde foram e onde se esconderam os outros deuses e deusas judeus? Se Javé era um Deus entre outros, como explicar esse fenômeno do ponto de vista humano de uma época?
O que estava envolvendo essa fé e que estratégias sócio-políticas para ocultar o nome de Deus?
De onde veio essa ideia de trindade? Será que foi outra estratégia de transição, entre o Henoteísmo e o monoteísmo?
Se Javé fosse um entre outros deuses de Israel, teria havido combates entre às figuras ou imagens de madeira ou pedra, também numa transição para um Deus imaterial?
Javé o Deus das tempestades, do deserto e da areia era maleável e não precisava de imagens?
Será que os outros deuses foram lentamente extintos e substituídos pelo Deus ideal, das narrativas sagradas, o Deus espírito, único, mono, invisível, indivisível e enigmático?
Se os primeiros Reis da Judéia são os representantes da teocracia, Javé, se tornou o Deus herói dos exércitos celestiais?
O Deus Supremo, o Deus da guerra, portanto violento, por outro lado, como o Deus Pai, o Deus Criador do Cosmo, o verdadeiro Deus de todo o mundo, com poderes de benção e salvação?
Parece que os Romanos usaram as bases do monoteísmo judeu e adotaram o renegado Jesus Cristo, preso, julgado e condenado a cruz, pelos próprios romanis e judeus, a condição de o Messias. Assim nasceu o Cristianismo Apostólico Romano.
Considerados os mais de 300 mil anos da espécie homo sapiens e is cerca de 12 mil anos de criação da cultura religiosa e nis mais de 5 mil anos dos clãs e tribos semitas, com o culto politeísta e henoteista, o monoteísmo é uma experiência muito curta em toda a humanidade.
Vale registrar que os judeus foram escravos do Egito, Babilônia e de outras civilizações, quando ainda não eram monoteistas.
Talvez na escravidão para os romanos, já estivessem na fase monoteista de sua história, aí foram levados para outras terras colonizadas por Roma. Então os textos bíblicos escritos posteriormente as grandes épocas de cativeiro, seja uma tentativa de convencer sobre um Deus único que ainda não era.
Quem podia conversar com Javé, além dos oráculos e profetas e qual a necessidade de enviar um Messias, se javé já é o todo poderoso?
O outro cuidado com a ideia da volta de um Messias é observar que as três matrizes teológicos monoteístas (judaísmo , cristianismo e islamismo) seguem esse mesmo princípio.
Muito conveniente essa situação da vinda ou da volta do messias, alertando que esse Messias virá quando a humanidade estiver completamente degenerada, quando poucos dos filhos de Deus serão arrebatados.
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Por Belarmino Mariano
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