Valdemar Costa Neto volta a fazer o L

Só falta Valdemar Costa Neto fazer o L com os dedos da mão. O resto, ele já fez. O presidente do PL irritou, ontem, a base bolsonarista ao rasgar elogios ao Lula. Para Valdemar , o petista é um “fenômeno” e “um camarada do povo, completamente diferente do Bolsonaro”.

Como relembrar é viver, vale recapitular momentos em que Valdemar se uniu ao atual presidente ou fez vista grossa aos deputados do PL que apoiaram Lula. E foram muitos momentos. O PL é onde se encontram filiados Jair e Michelle Bolsonaro. Os dois recebem uma bolada do fundo partidário para atuar como garotos propaganda do partido.

Se não fosse por Bolsonaro, Valdemar estaria caidinho na do Lula. Os dois ensaiaram uma aliança, no início do governo Lula 3, em troca da indicação de Valdemar para postos no Senado. A reação bolsonarista pôs fim aos planos do petista de seduzir o PL.

A expectativa de formar um batalhão de prefeitos no rastro do bolsonarismo obriga Valdemar a seguir unido ao ex-presidente. O PL espera eleger mais de 1,5 mil prefeitos neste ano, o que levaria a eleição de mais deputados federais daqui a dois anos, e quanto mais político eleito, mais grana do fundo partidário. É tudo business para o chefão do PL.

Mas Valdemar se apega às boas lembranças dos tempos em que era unido ao petista e se esquece das ruins. Uma época em que indicou o empresário José Alencar como vice de Lula na primeira eleição presidencial vencida pelo PT, em 2002. Valdemar conseguiu emplacar o vice-presidente e também Anderson Adauto para comandar o Ministério dos Transportes.

Quatro anos depois, o PL publicou carta com apoio incondicional à reeleição de Lula. Valdemar tinha passado por maus bocados um ano antes. Se viu obrigado a renunciar ao mandato de deputado federal, em agosto de 2005, para escapar da cassação após admitir recebimento de Caixa 2 do PT. Era o tal escândalo do mensalão, a compra de apoio parlamentar que sempre foi negada pelo Valdemar.

Na vez de Dilma Rousseff presidente, em 2010, lá estava ao lado do PT, de novo, o PL. Fato que se repetiu em 2014, na reeleição da presidenta petista. O clima só começa a azedar a partir da queda da Dilma, quando o PL apoia seu impeachment para se tornar, em seguida, base do governo Michel Temer, o vice mais traíra da República. Não era nada pessoal contra a Dilma, era só business.

Antes da eleição de 2022, Lula e Valdemar se reuniram em um hotel de Brasília. O PL foi um dos primeiros partidos procurados para compor uma aliança com o atual presidente. Jair Bolsonaro ainda não era da legenda, mas estava com um pezinho ali. Valdemar não tinha escolha, sentia-se encurralado pelos deputados do PL. “Se eu for com você, perco deputado, se eu for com Bolsonaro, eu ganho deputado”, – avisou ao Lula.

Apesar do PL ser o partido que abriga Bolsonaro e se declarar de oposição, cerca de 30 dos seus 99 deputados votam vez ou outra com Lula, além de negociarem emendas parlamentares com o governo. Claro, com aval e vista grossa de Valdemar.

Exemplos de traíragem do PL à oposição são recorrentes. O projeto de taxação dos super-ricos teve 12 votos favoráveis do Partido Liberal. A medida provisória que reestruturava os ministérios do governo Lula contou com 7 votos dessa legenda. Na aprovação da reforma tributária, foram 20 votos do PL. Outros 16 votos para a medida provisória do governo que aumentava em 9% os salários de servidores públicos federais. E assim segue o jogo. Por mais que as lideranças do PL façam cara de bravo, eles deixam a bola rolar. Business, colega.

Valdemar é um dos maiores líderes do centrão, não apenas do PL. Apelidado de “Boy” no inicio de sua carreira política em Mogi da Cruzes, aos 28 anos ele já era chefe de gabinete de seu pai, Valdemar Costa Filho, então prefeito da cidade. Promovido a secretário de Obras, Viação e Serviços Urbanos, Valdemar se tornou nome poderoso antes de completar 30 anos. O Boy deixava o pai orgulhoso.

Foi o Boy que apresentou uma modelo sem calcinha ao então presidente Itamar Franco na Sapucaí durante desfile de carnaval. Um escândalo que levou à ameaça de mais um impeachment. Foi o Boy que acabou denunciado no Conselho de Ética da Câmara pela própria ex-esposa como um corrupto de mão grande capaz de perder 500 mil dólares num cassino do Uruguai. Foi o Boy que parou no xilindró por receber grana do mensalão. Perdeu direitos políticos, mas se manteve relevante graças ao PL, um partido de um cacique só. Esse Boy tem como marca sempre se aliar a quem está no poder. Se o inelegível Jair Bolsonaro não render o que promete na eleição municipal, não será surpresa ver o Boy correr de volta para os braços de Lula. Business, meu caro.

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