Os Tratores do Agronegócio nas Rodovias da União Européia e a Crise Sistêmica do Capitalismo\

Revoltas camponesas na Europa Ocidental capitalista do século XXI, em especial no começo de 2024, não fossem os tratores bloqueando as rodovias da França, Itália, Alemanha, Espanha, Portugal e outros, lembrariam as grandes revoltas camponesas do século XIV, marcados pelos sistemas feudais em reinos catolicos, com monarquias absolutistas, os conflitos entre França e Inglaterra (Guerra dos Cem Anos), entre outras guerras e a epidemia da Peste Negra.

Estes reinos exploravam os servos (camponeses e artesãos) ao extremo. A pobreza e a fome nos campos, contrastavam com as riquezas palacianas, onde viviam, a realeza e a nobreza dos reis e os senhores feudais.
Isso revoltou os camponeses e as revoltas com protestos se espalharam nos vários territórios da Europa, que eram violentamente reprimidos pelas tropas imperiais.

Entre 2020 e 2022, tivemos a pandemia de Covid-19 e a partir de 2022, conflitos entre a Ucrânia e a Rússia, que abalou e ainda abala as estruturas da União Europeia, um bloco de poder que se envolveu diretamente no conflito, dando apóio ao governo da Ucrânia e melando suas relações com o governo russo.

A pandemia de Covid-19 foi desastrosa, com a morte de milhões de pessoas, em especial, idosas. Isso, até certo ponto, colaborou com os governos que equilibraram as contas públicas com a previdência social, decorrente dos óbitos de aposentados e pensionistas.

Já no conflito russo-ucraniano, expôs a profunda dependência dos países da União Europeia, em relação aos recursos minerais e energéticos, vindo diretamente da Rússia.

Esse conflito que já dura dois anos, jogou a Europa em uma forte crise econômica e energética, gerando inflação, insegurança e instabilidade. Na atualidade, os produtores rurais europeus, além de outros setores de produção, não conseguem manter suas produções lucrativas, diante de um mundo globalizado e muito mais produtivo.

Para termos uma pequena ideia, os produtores rurais europeus não conseguem acompanhar a capacidade agropecuária do Brasil, que já ultrapassou vários destes grandes países da Europa ou de blocos de países como o Mercosul, que unidos, conseguem vender mais barato que os produtores europeus.

Uma das exigências dos protestos entre os produtores rurais da União Europeia é tentar impedir um acordo econômico entre a União Europeia e o Mercosul, já bem adiantado.

Para piorar a situação política na Europa, as disputas entre governos democráticos e grupos de extrema direita (neonazist4s e neofascist4s), têm abalado estruturas de poder em países como Itália, Alemanha, França, Espanha e Portugal, entre outros.

Se ao final da idade média, camponeses se revoltaram com seus senhores feudais e as monarquias absolutistas, agora, temos proletários e empresários do agronegócio europeu, revoltados com seus governantes e as políticas capitalistas do presente.

Em 600 anos, saímos do feudalismo ao pré-capitalismo, passamos pelo capitalismo colonial mercantil escravocrata, para o capitalismo urbano industrial e atingimos o apogeo do sistema, chegando ao capitalismo financeiro informacional global.

Parece que mudaram as situações tecnológicas, mas a lógica da exploração ainda é a máxima desse sistema, agora com um capitalismo ainda mais agressivo e anti ecológico.

Uma coisa é certa, essa é mais uma profunda e sistêmica crise do modelo capitalista, mas os protestos e revoltas, não são revolucionários, pois por dentro do sistema é cobra engolindo cobra, em uma autofagia que coloca o próprio planeta e a humanidade em risco total.

No Brasil, empresários caminhoneiros e tratores do agronegócio deram suporte e apóio ao governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PL). Inclusive com a tentativa de golpe de Estado depois da eleição de Lula. Será que a extrema direita européia também estar por trás desses protestos dentro da União Européia?
Agora que os responsáveis pela união Européia, liberaram um pacote de € 50 bilhões de euros para o governo da Ucrânia, cerca de de 250 bilhões de reais, fica uma grande interrogação, esses 50 bilhões não seriam melhor empregados nos produtores rurais da própria União Européia?

Como parecem medievais estes atos governamentais dos países europeus, guerras seculares, doenças, fome e medo são parte de um mesmo tônico dos que controlam o mundo.

 

Por Belarmino Mariano.