“Ou pega ou morre”, disse o empresário Fábio Alves Escobar Cavalcante (foto em destaque) ao mencionar uma tentativa de suborno que recebeu pouco depois das eleições de 2018. Coordenador político, o homem fez diversas denúncias contra esquema de propina e crimes em Anápolis, Goiás, em 2019. Na época da proposta, ele contou que não aceitou a quantia de R$ 150 mil. Ele acabou sendo assassinado anos depois conforme a promessa relatada. Sua execução desencadeou outras sete mortes em uma longa queima de arquivo, prendeu policiais militares envolvidos em chacinas e abalou a estrutura política goiana.
No fim do mês passado, a Justiça de Goiás aceitou a denúncia que acusa Carlos César Savastano Toledo, ex-presidente do partido Democratas (atual União Brasil) em Anápolis, de ser o autor intelectual do assassinato de Escobar. O político, conhecido como Cacai Toledo, era o principal alvo das denúncias feitas pela vítima, e eles chegaram a trabalhar juntos durante eleições no estado, em 2018. A acusação também indica que os policiais militares Glauko Olívio de Oliveira, Thiago Marcelino Machado e Erick Pereira da Silva foram os executores do empresário.
De acordo com o inquérito policial, conduzido pela Delegacia Estadual de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), o político demonstrou descontentamento por diversas vezes com as denúncias e críticas que a vítima estava divulgando. Um coronel da Polícia Militar de Goiás (PMGO) chegou a testemunhar afirmando que foi procurado por Cacai Toledo para conversar sobre as desavenças pessoais com Escobar e avisado de que a única forma de resolver o problema seria “matando”. O militar pontuou, ainda, que o homem lhe entregou um documento contendo os dados cadastrais de Fábio Escobar.
No mesmo vídeo em que o empresário assassinado comenta sobre a propina, há duras críticas ao político: “A Justiça vai mostrar quem que é o vilão e quem é a vítima. Porque o Carlos César Toledo, com toda a sua habilidade para o mal, que nem acredita em Deus, eu acredito em Deus e tenho dois filhos para criar, mas não vou ficar calado com medo de morrer porque Deus sabe a hora de todo mundo. O Carlos César é um bandido”.
Apesar da breve menção ao governador, Ronaldo Caiado (União Brasil) nunca foi investigado no âmbito do inquérito que apurou a morte de Fábio. Cacai Toledo se tornou diretor administrativo da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Goiás (Codego), mas perdeu o posto depois de ser preso por suspeita de fraudes em licitações na companhia, em 2020. Atualmente, há um mandado de prisão contra ele por causa do assassinato de Escobar. No entanto, é considerado foragido desde novembro do ano passado.
Segundo documentos aos quais o Metrópoles teve acesso, Fábio Alves Escobar foi atraído para uma emboscada por indivíduos que, se passando por compradores de um imóvel, marcaram encontro utilizando um celular.
Foi esse aparelho de telefone que acabou gerando a morte das outras pessoas em tentativas de queima de arquivos. Além dos três PMs diretamente ligados à execução do empresário, mais sete policiais foram indiciados pelos crimes relacionados. Eles devem responder em processos diferentes por tipificações como furto, fraude processual e homicídio.
Celular e chacina
Enquanto estavam em um motel, um traficante e sua namorada foram torturados e tiveram o celular roubado. Eles reconheceram que os agressores usavam a farda da PMGO. Dias depois, o aparelho telefônico foi usado em uma emboscada para matar Escobar.
Foi esse celular que, segundo os policiais, acabou gerando a morte das outras pessoas. Os investigadores apuraram que, meses antes da morte de Fábio, o objeto estava em posse de Bruna Vitória Rabelo Tavares. A mulher é, justamente, a esposa do traficante, que chegou a reconhecer o cabo Glauko Olívio de Oliveira durante o momento de tortura que ocorreu no motel.
Eles registraram boletim de ocorrência na central de flagrantes de Anápolis após o roubo. Meses depois, Bruna – que estava grávida de 7 meses – foi vítima de homicídio, com tiros disparados por dois homens em uma motocicleta. O esposo dela, novamente, reconheceu Glauko Olívio como sendo um dos atiradores.
No mesmo dia do assassinato da jovem, procurando justificar a execução, um grupo de policiais militares se envolveu em suposto confronto com disparos de arma de fogo, ocasionando a morte de Gabriel Santos Vital, Gustavo Lage Santana e Mikael Garcia de Faria. Todos eram amigos de Bruna.
Novas mortes
Procurando pelo traficante, única testemunha que teria visto os policiais nos crimes, os militares foram acusados de torturar e matar Bruno Chendes, Edivaldo Alves da Luz Junior e Daniel Douglas de Oliveira Alves.
Eles também eram amigos da testemunha e, conforme inquérito policial, foram torturados até a morte, para que fornecessem informações sobre o paradeiro do homem.
Uso do celular
Antes do assassinato do empresário Fábio, segundo as apurações, um outro policial militar consultou o CPF da vítima no sistema da Secretaria de Segurança Pública. Dias depois, Glauko realizou a conexão de internet na casa do também PM Erick Pereira da Silva e, utilizando-se do número de CPF de Fábio Alves, cadastrou o chip no celular roubado.
Além disso, conforme consta nas investigações, nos três dias em que a linha telefônica ficou ativa, o celular estava nas imediações do endereço residencial do PM Welton da Silva Vieiga, que morreu em dezembro de 2022.
Defesas
Não houve resposta até o fechamento desta matéria. O espaço será atualizado com possíveis manifestações.
A defesa dos outros envolvidos não foi localizada pela reportagem.
metropoles
Outras Notícias
Decisão sobre horário de verão será na terça-feira, diz ministro; Reunião com a equipe técnica será em Brasília
Infecção por HIV em transplantes é investigada no Rio; Secretaria de Saúde e Cremerj abriram sindicância
Anatel divulga lista com 2.027 páginas de bets a serem bloqueadas