Hoje fui ao Cartório Eleitoral com minha garota para ela fazer o título eleitoral. Tudo bem organizado, fichas de espera e muitos jovens se preparando para o primeiro voto. Pude notar assessores políticos, acompanhando alguns desses jovens, num claro assédio eleitoral.
Enquanto esperávamos a vez, chamaram o número 30. Era minha filha. Ficou em uma cabine recuada do público. Não dava para ouvir, mas vi sua assinatura eletrônica e o flash da fotografia.
O cartório eleitoral não é grande e na primeira fileira de atendimento, ouvíamos os servidores perguntando os dados dos jovens e preenchendo as fichas.
Notei que tinha duas jovens gêmeas que já estavam sendo atendidas com as fichas 28 e 29. Aí a mãe explicou que era o mesmo endereço e repassou o papel da conta de água para a outra funcionária.
Em uma cadeira frontal, observei uma mãe e sua filha, conversando baixinho. A garota usava óculos de grau leve e armação fina, em aço.
Eram duas mulheres negras de cabelos longos e bonitos . Enquanto conversavam, a filha olha para mãe com aquele olhar doce, de carinho e admiração.
Acho que esse amor de mãe e filha é um dos mais belos.
Sua ficha era a 32 e foi chamada para seu primeiro título, então fiquei observando qual seria sua resposta para o quesito identidade étnica. Ela respondeu com ar de orgulho que era negra. A atendente perguntou se ela se sentia quilombola, ela respondeu que não, que era da cidade mesmo. Isso me fez pensar em ser quilombola, não apenas no sentido do território, pois nossas cidades, por concentrar muitas populações negras, em alguns casos urbanos, lembram quilombos.
Pensei o quanto é fundamental a educação, o seu reconhecimento identitário em ser uma jovem negra, e a democracia nossa de cada dia é o que está em jogo.
Como é triste vermos o racismo estrutural, a misoginia, o preconceito as populações LGBTQUA+ e os ataques golpistas ao Estado Democrático de Direito.
Espero que os jovens se conscientizem e votem para que a gente consiga avançar e fortalecer as nossas instituições e os os interesses populares.
Digo isso, pois vejo que as mulheres e negros, são a grande maioria do eleitorado e, estão sendo assediadas como nunca.
Minha filha, graças a nossa formação, é uma mulher livre e de pensamento crítico. Desejo o mesmo para essa nova leva de jovens que já votam ou que vão votar pela primeira vez.
Nós, filhas e filhos da classe trabalhadora, não podemos nos iludir com o discurso bonito dos representantes das elites golpistas, nem podemos cair no conto do vigarista que virá comprar o nosso voto.
Por Belarmino Mariano
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