Mãe de jovem morta em racha: “Tão violento que caixão ficou fechado”

A mãe da adolescente Letícia Maria Barroso Camargo, de 17 anos, que morreu após o carro em que estava bater na traseira de um caminhão de lixo na BR-070, em 21 de dezembro do ano passado, cobra a conclusão da investigação do acidente depois de quase quatro meses de luto.

A falta de respostas tem prolongado o sofrimento de Iramara Barroso Camargo, de 51. A adolescente era sua única filha e, na madrugada do acidente, estava no banco da frente do veículo. Ao todo, oito pessoas ocupavam o Jetta envolvido na tragédia: o motorista Rafael Alves de Oliveira, de 33, e outras sete jovens com idades entre 17 e 20 anos.

Em entrevista, Iramara diz que a demora da finalização do inquérito policial e a impunidade ao motorista causam preocupação à família. Mãe e pai da jovem tomam remédio controlado e estão afastados do trabalho por não superarem a perda de Letícia.

“A minha filha teve o crânio rachado e afundamento na face. O caixão da Letícia não foi aberto. O Rafael precisa pagar pela irresponsabilidade. Ele assumiu o risco de matar. Cometeu muitas infrações graves e gravíssimas”, desabafa a mãe da vítima.

As investigações apontam que Rafael estava embriagado na madrugada do acidente, recusou fazer o teste do bafômetro e tentou escapar, mas foi localizado. Ele estava ferido e acabou encaminhado ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC).

Ao ser acionada na sexta-feira (12/4), a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) informou que Rafael foi indiciado por homicídio e tentativa de homicídio dolosos porque há indícios de embriaguez, racha e fuga do local. O inquérito está na fase final.

Em vídeos exclusivos obtidos pela reportagem, o motorista aparece acelerando o carro e participando de racha em uma das pistas do Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA), dias antes ao ocorrido.

Na noite anterior à madrugada de 21 de dezembro, Letícia fez diversas gravações confraternizando com as seis jovens também vítimas do acidente e com Rafael, em um bar, em Taguatinga Norte.

Antes disso, em outro vídeo feito no fim da tarde anterior à madrugada do acidente e ainda com a camiseta da empresa em que trabalhava, a adolescente filmou uma pistola e munição que estavam no carro do gerente.

Letícia conhecia Rafael há cerca de seis meses e atuava como menor aprendiz em uma grande concessionária, a mesma empresa em que Rafael é gerente de vendas. Ela dividia o banco do passageiro com uma amiga. As outras cinco ocupantes estavam no banco traseiro do veículo.

Kauane de Jesus Souza, 20 anos, estava no carro. Para ela, ainda é difícil relembrar tudo o que viveu naquele dia. “Chovia muito. Nós estávamos antecipando a comemoração do meu aniversário. Eu nunca tinha vivido nada parecido. Há menos de um mês ainda usava colar cervical pelas lesões que sofri. Vamos fazer de tudo para obter respostas”, pontua.

Quase quatro meses depois da morte da única filha, Iramara segue inconformada com o assédio e a irresponsabilidade do motorista, bem como com a impunidade dele.

“Eu estou tomando remédio para acordar, para dormir, para comer. A minha vida e a da minha filha foram destruídas, e o motorista segue com sua rotina trabalhando na mesma empresa normalmente. Essa impunidade me revolta. Quantas Letícias precisarão morrer para que a Justiça seja feita?”, questiona a mãe da vítima.

Assista ao depoimento da mãe e de uma das sobreviventes:

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