Padre, médico, policial, bombeiro: as multifacetas do falso diácono

A história de se passar por diácono da Arquidiocese de Brasília foi apenas mais uma das tentativas de golpes orquestradas por Marcos Antônio Oliveira Batista, 27 anos. Após denúncia da Igreja Católica e veiculação do caso por parte do Metrópoles, leitores relataram diversos casos em que o falso religioso protagonizou no decorrer de anos. A faceta, a propósito, não é a única usada pelo homem, que já se apresentou como médico, padre, diácono, policial e bombeiro.

Circula no Twitter, por exemplo, um vídeo que teria sido gravado em 2021. Nele, Marcos Antônio aparece dizendo que não tem medo das autoridades, porque ele seria “a própria polícia”. “Eu sou a própria polícia. Eu trabalho na polícia, os próprios companheiros de trabalho da polícia vieram me comunicar sobre as fake news, e se a Polícia Federal estivesse atrás de mim, eu já estaria preso há muito tempo.”

Nos comentários, os usuários dizem reconhecer Marcos de denúncias anteriores. “A nossa fênix golpista. Quando a gente acha que ela virou poeira, ressurge das cinzas”, escreveu um. “[Ele é] praticamente uma Barbie, que já trabalhou em todas as profissões!”, brincou outro.

Um tuiteiro conta que já chegou a conversar com Marcos. “Nessa época [em 2021], ele me mandava mensagens porque eu trabalhava com um famoso cantor”, escreveu. “Lembro de uma página que fazia um compilado só de golpes dele”, disse outro internauta.

À reportagem moradores do DF e de São Paulo (SP) alegam ter sofrido golpes de Marcos Antônio. Um homem que preferiu não ser identificado disse que conheceu o acusado em dezembro de 2021, em uma festa de Ano-Novo em Brasília, onde ele se apresentou como médico. “Ele falava que estudava em Portugal. Acabei emprestando um bilhete de passagem aérea para ele ir ao país europeu, além de R$ 1 mil, que ele disse que seria para uma amiga dele. Depois disso, ele começou a dar desculpas”, relata.

“A conversa dele não era fajuta, ele te fazia acreditar no personagem, ia te convencendo com histórias sem furos aparentes”, relembra a vítima.

Também ao Metrópoles, um morador de São Paulo (SP) acusa Marcos Antônio de se passar por padre e dar golpes em fiéis de paróquias da capital paulista. O rapaz reuniu relatos de outras vítimas do indivíduo, que contam ter sido abordadas por ele pedindo dinheiro para vaquinhas, passagens de avião e procedimentos médicos.

“Ele dava o golpe nas pessoas e ia apagando os perfis das redes sociais para não ser encontrado. Depois, fazia outras contas”, conta o morador de SP, que também pediu anonimato.

Um rapaz de Goiânia (GO) contou ter conhecido Marcos Antônio em uma balada da capital goiana. “Na época, ele falava que era médico no Corpo de Bombeiros”, descreve.

Golpe em condomínio de luxo do DF

Marcos Antônio Oliveira Batista já foi denunciado na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por aplicar golpes em dois moradores de um condomínio de luxo do Setor de Hotéis e Turismo Norte (SHTN). O homem teria pego dinheiro emprestado junto às vítimas e desaparecido em seguida, em 9 de julho de 2023.

À época, uma das vítimas procurou a PCDF para registrar boletim de ocorrência. De acordo com as investigações, Marcos alugou um apartamento para ficar durante alguns dias. No período, o homem se apresentou como padre e médico e passou a se incluir na rotina dos moradores, que, até então, viviam em harmonia.

Usando da simpatia para conseguir a confiança dos moradores, o falso religioso continuou se aproximando das vítimas. Até que, em 8 de julho, pediu R$ 300 a uma moradora e R$ 250 a outro vizinho. Após conseguir o dinheiro, Marcos deixou o condomínio e nunca mais deu as caras.

Ainda de acordo com as investigações, as vítimas procuraram saber mais do homem que havia conquistado a vizinhança e sumido com os R$ 550 em mãos. Nesse momento, os moradores leram relatos nas redes sociais indicando outros golpes supostamente cometidos por Marcos Antônio.

Prisão no Paraná

A Polícia Civil do Paraná (PCPR) prendeu o falso religioso na cidade de Paranacity (PR) na última segunda-feira (1º/7), pelo crime de estelionato. De acordo com a corporação, Marcos Antônio não apresentou documento de identidade no momento da prisão, apenas um certificado se intitulando diácono.

Ainda segundo a PCPR, Marcos acumula inúmeras denúncias de estelionatos e furtos em diversas cidades e estados. No município de Cruzeiro do Sul (PR), o acusado apresentou comprovantes falsos de Pix após realizar um tratamento odontológico em uma clínica, e também ao comprar cervejas em um estabelecimento.

Em Londrina (PR), o suspeito é acusado de pedir uma corrida de táxi e também mostrar um comprovante forjado ao taxista. O funcionário revelou ao Metrópoles que Marcos Antônio, fingindo ser padre, não pagou por uma corrida e deu desculpas ao ser cobrado.

A reportagem tenta localizar a defesa de Marcos Antônio Oliveira Batista. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.

Metrópoles