Suspenso em 2021, o horário de verão divide opiniões. Cerca de metade da população acha interessante a ação, que volta uma hora no relógio para aproveitar mais a luz solar e economizar energia. Porém, para a outra metade, é difícil se acostumar com o novo fuso horário. Agora, o governo Lula avalia voltar com o esquema. Mas, será que faz mal à saúde?
Um grupo de 26 cientistas publicou, na semana passada, um manifesto se posicionando contra a medida. Os pesquisadores de várias universidades brasileiras são da área que estuda os ritmos e fenômenos biológicos, conhecida como cronobiologia.
Para os especialistas, o horário de verão força o organismo a uma adaptação muito brusca, que pode causar distúrbios do sono, transtornos mentais e cognitivos e até o aumento de eventos cardiovasculares adversos.
“Ao longo de milhares de anos, os ritmos biológicos humanos estiveram alinhados ao ciclo natural de luz e escuridão, regulando funções essenciais como sono, apetite, funções cardiorrespiratórias, desempenho cognitivo e humor. A exposição à luz natural, especialmente pela manhã, é crucial para sincronizar nosso ‘relógio biológico’ com o ambiente”, escrevem os cientistas.
Segundo o grupo, o horário de verão agrava a dessincronia entre o ritmo biológico e os horários social e ambiental, interferindo na sincronização do corpo com o ciclo natural. A nota afirma que este posicionamento é adotado por sociedades científicas internacionais, que defendem o fim da prática em todo o mundo.
Horário de verão: o que diz a ciência
A diferença de uma hora pode parecer pequena, mas, de acordo com várias pesquisas, faz a diferença na saúde da população. Um estudo feito em 2017 pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) analisou como as pessoas lidam com a mudança de horário. Participaram da pesquisa 12.467 voluntários, e mais de 45% relataram algum tipo de desconforto com a alteração.
O “jet lag” causado pelo horário de verão pode trazer fadiga mental e física, dificuldade de dormir ou de acordar e mudanças no metabolismo. Alguns especialistas apontam que há chance de ganho de peso, agravamento de diabetes e aumento dos casos de depressão.
Um levantamento feito na Universidade Colorado Boulder, nos Estados Unidos, e publicado em 2020, dá conta que, no dia seguinte à implementação do horário de verão, há um aumento de 6% no risco de acidentes de trânsito fatais — a falta de atenção, que pode ser causada pela noite desregulada, é considerada a responsável pelo problema.
Um estudo de 2016 feito por pesquisadores finlandeses e publicado na revista científica Sleep Medicine mostrou que as hospitalizações por AVC aumentam nos dois primeiros dias da troca de horário.
Outra pesquisa, feita por cientistas americanos e suecos em 2020 e publicada na revista PLOS Computational Biology Jornal, sugere que também há um risco de aumento nos casos de doenças relacionadas à imunidade, desordens do sistema digestivo e infecções quando o horário de verão acaba e o relógio volta para o habitual.
Um levantamento italiano de 2019, que analisou sete estudos que incluíam mais de 100 mil pessoas, mostrou que há um aumento no risco de ataque cardíaco nas semanas seguintes da troca de horário. A pesquisa foi publicada na revista Journal of Clinical Medicine.
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