Uma reportagem do Brasil de Fato revelou que a Fazenda Remígio, localizada em Campina Grande, foi um dos poucos locais no Brasil dedicados à reprodução forçada de pessoas escravizadas. A fazenda pertenceu a Francisco Jorge Torres, um dos pioneiros da família Vital do Rêgo. Torres é o quinto avô do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), que integra um dos grupos políticos mais tradicionais do estado. Ele é filho da ex-senadora Nilda Gondim e do ex-deputado Antônio Vital do Rêgo, além de irmão do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo Filho. A linhagem inclui ainda o ex-governador Pedro Gondim e o ex-senador Argemiro de Figueiredo.
O caso já havia sido mencionado em uma matéria da Agência Pública, no projeto Escravizadores, que detalhou a história da fazenda, conhecida na época da escravidão como “a maternidade”.
O local foi identificado pelo jornalista e pesquisador Laurentino Gomes como um dos poucos no país voltados exclusivamente para a reprodução sistemática de escravizados.
Mulheres eram forçadas a engravidar continuamente, enquanto homens selecionados eram utilizados como reprodutores. Os bebês eram rapidamente separados das mães e vendidos como mercadoria.
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Lá era o lugar em que as escravizadas de Francisco Jorge Torres, um português que se mudou para o Brasil no início do século 19 e fez fortuna com a criação e venda de pessoas, iam para dar à luz os bebês que depois seriam comercializados por ele. Pelo menos cem crianças tiveram esse destino. Além de servir para a reprodução de pessoas, o local funcionava também como fazenda de criação de gado e curtume.
Ainda hoje é possível ver as ruínas do que, naquela época, era uma casa de pedra com paredes grossas, apenas uma porta de entrada e saída e uma janela gradeada, onde as escravizadas faziam o parto e passavam os primeiros dias – o único momento em que podiam ficar junto com os filhos. Pequenos buracos na parede serviam para os capitães do mato ouvirem o que estava acontecendo dentro, para identificar quando um bebê nascia e evitar que a mãe escondesse a criança para tentar fugir com ela depois.

As escravizadas de Torres moravam e trabalhavam no casarão da família no município vizinho de Areia, e apenas as mais velhas permaneciam na fazenda para ajudar nos partos. A senzala ficava nos fundos do casarão, com 12 quartos de quatro metros quadrados, sem janelas, que recebiam até 12 pessoas por vez, enquanto aguardavam ser vendidas. Em frente aos quartos ficava o tronco, onde ocorriam os açoites. Os quartos não tinham portas, apenas grades de ferro, para que todos vissem os castigos.
Torres tentou ganhar dinheiro plantando café, mas o clima da região não colaborou. Então focou os negócios na venda de escravizados como mão de obra para as várias fazendas de cana-de-açúcar vizinhas. Com o tempo, Areia se tornou um dos principais polos de comércio de pessoas do Nordeste. O negócio era tão pujante que o historiador Horácio de Almeida estimou que, em 1840, a cidade de 32 mil habitantes tinha mais de quatro mil escravizados.
Tanto a fazenda “maternidade” como a senzala urbana foram conservadas e estão abertas à visitação, com foco na história da escravidão. Mas o tema da reprodução de pessoas para venda geralmente é tratado pelos guias turísticos como uma curiosidade. Nas redes sociais, fotos das ruínas de Remígio aparecem junto a frases motivacionais, como “Veja a beleza em cada pequeno momento que a vida oferece”. Com informações do Brasil de Fato.
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