A decisão judicial que autorizou a prisão preventiva do padre Egídio de Carvalho Neto traz uma série de detalhes sobre as suspeitas que cercam o religioso. E aponta uma vida de luxos e excessos, com gastos milionários que ultrapassam em muito a sua renda mensal. Nesta sexta-feira (17), padre Egídio foi preso, passou por audiência de custódia, que decretou a manutenção da prisão do religioso, e foi encaminhado para a Penitenciária Especial do Valentina de Figueiredo, na zona sul de João Pessoa.
O padre é suspeito de ser dono de 29 imóveis considerados de alto padrão, localizados na Paraíba, em Pernambuco e em São Paulo, e de investir altos valores em vinhos, decorações e obras de arte. O padre está preso e vai passar por audiência de custódia.
Egídio de Carvalho Neto é o ex-diretor do Hospital Padre Zé, que era gerido pelo Instituto São José. Ele comandava também a Ação Social Arquidiocesana. São três instituições que recebiam regulares investimentos em forma de doação e de repasse por parte do Poder Público e de onde saíam, segundo as investigações, o dinheiro usado para “construir fortuna em benefício” do padre.
Ao justificar a decisão, o desembargador Ricardo Vital de Almeida destacou que os delitos (lavagem ou ocultação de bens ou valores, peculato e falsificação de documentos públicos e privados, bem como organização criminosa) são dolosos e puníveis com pena privativa de liberdade superior a quatro anos. Ainda segundo a decisão, o crime teria se iniciado em 2013 e só cessado em setembro deste ano, com o início das investigações.
Ainda de acordo com as investigações, o esquema teria participação direta de Jannyne Dantas Miranda e Silva e Amanda Duarte Silva Dantas, ex-diretora administrativa e ex-tesoureira do Hospital Padre Zé. Os três tiveram mandados de prisão expedidos pelo desembargador.
Por exemplo, em que pesasse o salário líquido do religioso, pago pela Arquidiocese da Paraíba, girar em torno de R$ 16 mil, era ele quem pagava a mensalidade de um curso de medicina numa faculdade particular de São Paulo, para um sobrinho, num gasto regular de R$ 13 mil por mês.
A investigação aponta que um carro novo comprado por Egídio de Carvalho Neto, avaliado em R$ 122 mil, teria sido pago à vista, com verba oriunda de recursos públicos repassados ao Instituto São José.
Imóvel localizado em João Pessoa investigado no caso de desvios de verbas do Hospital Padre Zé — Foto: Reprodução/TV Cabo Branco
Foram encontrados ainda inúmeros orçamentos pagos de reforma e ambientação dos imóveis pertencentes ao padre: eletroeletrônicos de luxo “com elevado custo de mercado” peças de decoração de valores “absolutamente incompatíveis com o padrão financeiro do investigado”.
Outra constância eram gastos com móveis de luxo, imagens sacras, cristais, imagens sacras e adornos antigos feitos em prata, cristal e madeira. Além disso, foram encontrados recibos de compra de “relíquias religiosas de elevados valores”.
Os gastos eram de toda a ordem. Para se ter uma ideia, apenas em 23 de junho de 2022, véspera das festividades de São João, o padre teria gasto R$ 29.024,13 em vinho. Ao longo de todo aquele ano, o gasto total teria sido de R$ 109.980,00 apenas com o produto.
E numa demonstração que a ideia era expandir ainda mais o seu patrimônio pessoal, a investigação aponta saques de R$ 350 mil, R$ 128,9 mil e R$ 80,4 mil destinados para a aquisição de itens de decoração. Além de um orçamento de R$ 243,3 mil investidos num projeto de arquitetura para a construção de um Salão de Lazer e Estúdio com suíte, com área aproximada de 210 metros quadrados de área construída, no município paranaense de Bandeirantes.
Corrupção
As investigações identificaram o que aparenta ser o desvio de R$ 363.926 referentes à compra de 38 monitores multiparamétricos para o Hospital Padre Zé na época da pandemia de Covid-19. Esses equipamentos eram importantes para o tratamento de pacientes com casos graves da doença e foi comprado a partir de convênio com a Secretaria Municipal de Saúde.
A nota fiscal data de 28 de dezembro de 2022, mas auditoria realizada em 10 de outubro de 2023 revela que os equipamentos não foram recebidos e não constam no inventário da instituição.
Afastado das funções religiosas
Egídio de Carvalho está afastado das funções religiosas desde o final de setembro, por decisão da Arquidiocese da Paraíba. Na prática, ele fica proibido de ministrar missas ou qualquer outro sacramento da igreja.
Após a prisão, a Arquidiocese divulgou uma nota afirmando que está colaborando integralmente com as investigações em curso.
Quanto ao processo Canônico contra Egídio de Carvalho Neto, esclareceu que o procedimento foi instaurado em 27 de setembro de 2023 e está seguindo seus trâmites normais.
“Reforçamos nosso compromisso com a transparência e manifestamos total apoio às autoridades competentes, colaborando de forma irrestrita para que toda a verdade sobre os eventos em questão seja esclarecida”, afirmou.
G1
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