Para Rogers, somos todos/as como as batatas!

 

Não, você não entendeu errado. Também não adianta ficar pensando o
que isso quer dizer… Se você não ler essa coluna até o fim, provavelmente,
nunca saberá o que você tem a ver com uma batata. Mas antes de qualquer
coisa, é importante apresentar Carl Rogers, mas pode chama-lo de Rogers
mesmo. Carl Ransom Rogers foi um psicólogo estadunidense desenvolvedor da
Abordagem Centrada na Pessoa – a ACP. Durante toda a sua trajetória, Rogers
buscou auxiliar diversas pessoas em seus atendimentos psicológicos.

Mas a contribuição dele para a nossa sociedade não pode ser resumida
a uma sala de atendimento. Rogers foi além. Na verdade, ele foi muitoooo além.
Diante de tantas perguntas e incomodado sobre como poderia contribuir com o
crescimento pessoal de seus pacientes, certo dia, Rogers estava sentado no
celeiro da fazenda de seu pai. Ele notou a presença de um saco de batatas.
Algumas delas estavam expostas ao Sol, enquanto outras estavam
“aprisionadas”, sem receber luz solar.

Durante algumas semanas, Rogers sentou no mesmo local e começou a
observar de forma mais atenta as batatas. As que estavam expostas, pareciam
estar em pleno desenvolvimento. Já as que estavam “escondidinhas”,
simplesmente não evoluíam. Pareciam estar em estado vegetativo, sem
perspectiva alguma de crescimento. Rogers, na tentativa de “ajudar” as
batatinhas tímidas, abriu o saco e deixou que a luz solar adentrasse ao ambiente
úmido presente ali. O Sol agora iluminava e aquecia todas as batatas.

 

Na semana seguinte, Rogers foi visitar suas queridas batatas. Ele ficou
encantado com o que havia acontecido. Não, as batatas não tinha virado
batatinhas fritas! Elas estavam em pleno desenvolvimento! Em estágios
diferentes de evolução, logicamente, mas todas pareciam estar desabrochando
para a vida dessa vez! Diante de uma reflexão tão calorosa (peço desculpas pelo
trocadilho), Rogers desenvolveu a ACP. A Abordagem Centrada na Pessoa,
acredita que todos os seres vivos têm o potencial necessário para que possam
evoluir e crescer com as suas vivências e experiências.

Todos os organismos vivos têm uma tendência ao crescimento e
sobrevivência, mas precisam estar centrados em si para conseguir superar seus
desafios. Seguindo esta analogia, precisamos entender o que temos a ver com
as batatas! Simples, assim como as batatas, precisamos de uma energia que
contribua para o nosso desenvolvimento. E como estamos falando do
desenvolvimento interno, você já deve imaginar que não se trata apenas de
extarmos expostos à luz solar. Estou falando do nosso “Sol” interior, o que nos
aquece de dentro para fora e que permite que a nossa evolução aconteça como
seres vivos, seres humanos.

O autoconhecimento é o nosso Sol interior! É ele que permite que, diante
dos desafios que vivenciamos, possamos sobreviver cada dia, mesmo que nada
faça sentido. Todos/as temos o potencial de evolução dentro da gente, somos
seres vivos e a nossa composição biológica é dinâmica. Podemos crescer ou
regredir, tudo depende do quanto nos conhecemos. Rogers começou a aplicar
essa constante em seus atendimento psicológicos. Ele não tinha respostas ou
soluções mágicas para as dificuldades que seus pacientes vivenciavam. Mas,
como um bom amigo, Rogers oportunizava aos seus pacientes o
autoconhecimento. Favorecia o desabafo, mostrava empatia… enfim, “abria o
saco” para que o Sol aquecesse o coração de quem estava em sofrimento
emocional.

A ACP está presente até mesmo em instituições renomadas e
reconhecidas internacionalmente que prestam atendimento emocional de
emergência e prevenção ao suicídio. Muitas vezes, o que precisamos é
simplesmente que sejamos ouvidos para que possamos nos ouvir. Quando nos
ouvimos, quando nos conhecemos, podemos entender quais são os caminhos
que precisamos trilhar para que, assim como as batatas, possamos evoluir não
pelos outros mas por nós mesmos. Eu te pergunto… está pronto/a para
desenvolver a “sua batatinha” interior?

 

 

Psi. Francisco Almeida
Psicólogo Clínico
CRP13 / 10638
Pós-graduado em Neuropsicologia Clínica e em Saúde Mental, Psicopatologia e
Atenção Psicossocial